“Ainda vos digo mais: Se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Pois, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.”
Questão
O Senhor terá insinuado que dois ou três reunidos em seu nome já são uma igreja? Ou terá outro significado? Temos de considerar o contexto bíblico próximo para responder a esta questão.
Contexto bíblico
Comecemos pelo texto base deste assunto: “Assim, também não é da vontade de vosso Pai que está nos céus, que venha a perecer um só destes pequeninos. Ora, se teu irmão pecar, vai e repreende‑o entre ti e ele só; se te ouvir, terás ganho teu irmão; mas se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois para que pela boca de duas ou três testemunhas toda palavra seja confirmada.” (Mt 18:14–16). “Se recusar ouvi-los, di-lo à igreja; e, se também recusar ouvir a igreja, considera‑o como gentio e publicano. Em verdade vos digo: Tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu; e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu. Ainda vos digo mais: Se dois de vós na terra concordarem acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Pois onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” (Mt 18:17–20).
Quando alguém comete pecado fica sujeito à condenação e permanece sob o juízo divino por causa da sua rebeldia. É por este motivo que um irmão deve procurar o seu irmão para salvá-lo da condenação a que está sujeito. Foi neste contexto que o Senhor deu a respectiva instrução: “Que vos parece? Se alguém tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixará as noventa e nove nos montes para ir buscar a que se extraviou?” (Mt 18:12).
Primeiro, consideremos que o Senhor ensinou quatro passos para conciliar irmãos desavindos, a fim de um, ou os dois, não se perderem:
1. Realizar uma reunião conciliatória entre as pessoas envolvidas.
2. Realizar segunda reunião na presença de testemunhas.
3. Considerar o caso em assembleia geral da igreja.
4. Excluir a parte obstinada da comunhão da igreja.
O ofendido pode tomar a iniciativa, no caso de o ofensor a não tomar. Isto é, quem ficou ofendido com o procedimento de algum irmão, deve considerar que Deus também poderá estar ofendido. Neste caso, a melhor atitude é procurar o referido irmão e esclarecê-lo do perigo existente devido ao seu pecado. Porém, se não der crédito a esse aviso, deve ser tomada outra solução: chamar uma ou duas testemunhas para confirmação do sucedido. E, finalmente, após esgotadas todas as hipóteses de conciliação, a assunto é levado à assembleia geral para decisão final. Conforme ensinou o Senhor: “Se recusar ouvi-los, di-lo à igreja; e, se também recusar ouvir a igreja, considera‑o como gentio e publicano.” (Mt 18:17).
Depois diz que “tudo o que ligardes na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra será desligado nos céus” parece significar que Deus só agirá depois de nós agirmos, o que não pode corresponder à verdade. Deus não pode depender dos nossos caprichos, nem corroborar todas as nossas acções. Tudo deverá obedecer aos padrões entregues por Jesus, o Soberano.
Além disso, temos de considerar gramaticalmente os vocábulos gregos usados em ‘ligar’ e ‘desligar’ para recebermos mais luz. Ambas expressões estão no futuro perfeito perifrástico passivo, formado pelo futuro do verbo ser e o perfeito passivo dos verbos ligar ou desligar (estai dedemena e estai lelumena), respectivamente, cujo significado mais correcto seria: terá sido ligado, ou, terá sido desligado. Por este motivo, seria mais lógico concluir que quando alguém for ligado ou desligado, na terra, já o terá sido por Deus no céu. Ele não espera pela nossa acção, muitas vezes falível. Quando um pecador se arrepende é imediatamente recebido por Deus, devido à sua fé, conforme foi dito ao carcereiro de Filipos: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo tu e a tua casa.” (At 16:31). Assim como quando alguém peca também fica sujeito à condenação divina, ‘porque o salário do pecado é a morte’.
Em seguida, Jesus contou uma parábola sobre certo rei que perdoou a dívida a dois de seus servos. Porém, um deles, recusou-se a perdoar ao seu companheiro e foi condenado por isso. A lição ensina que assim como recebemos o perdão de Deus, também devemos concedê-lo aos outros, sob pena de sermos excluídos do seu reino. Uma sociedade perdoada não pode existir se não estiver pronta a perdoar.
E Jesus continua o seu discurso: “Ainda vos digo mais: Se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Pois, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” (Mt 18.19,20). Esta declaração refere-se a outro assunto, respeitante aos pedidos feitos a Deus sob o acordo de, pelo menos, duas pessoas. Ou seja: Se dois ou três chegarem à conciliação através do perdão, também Deus perdoará. “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará vossas ofensas”, diz o Senhor em Mateus 6:14,15. Se concordarem noutros assuntos importantes, conforme o plano de Deus, também o Senhor aprovará.
Reunidos em meu nome – Isto é, agindo sob minha autoridade. Sobre este tema examinemos João 10:25 e 16:23,24, respectivamente: “As obras que eu faço em nome de meu Pai, essas dão testemunho de mim.…Em verdade, em verdade vos digo que tudo quanto pedirdes ao Pai, ele vo-lo concederá em meu nome. Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo seja completo.” Isto pode significar:
a) ao meu serviço;
b) no tempo de oração;
c) reunidos em obediência ao meu mandamento;
d) com desejo de promover a minha glória.
Conclusão
Ali estou eu no meio deles significa que nada poderia mais claramente provar que Jesus é omnipresente e, sem dúvida, que é Deus. Todos os dias, onde estiverem dois ou três reunidos em nome de Jesus, o Emanuel, ele está no meio deles como Salvador e Senhor para ajudar na solução. Todavia, dois ou três reunidos não são uma igreja, como já tem sido opinado. A palavra igreja, em grego, significa assembleia, e nenhuma assembleia pode ser realizada somente com três pessoas.
Eis uma resposta possível: A Bíblia contém o número dez muito repetido, e, talvez por isso, os judeus, apreciando‑o como número perfeito, o tenham considerado número mínimo para uma reunião em sinagoga. Observemos alguns exemplos: “Disse ainda Abraão: Ora, não se ire o Senhor, pois só mais esta vez falarei. Se porventura se acharem ali dez? Ainda assentiu o Senhor: Por causa dos dez não a destruirei.” (Gn 18:32). “…e escolheu Moisés homens capazes dentre todo o Israel, e os pôs por cabeças sobre o povo: chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez.” (Êx 18:25). “Assim diz o Senhor dos exércitos: Naquele dia sucederá que dez homens, de nações de todas as línguas, pegarão na orla das vestes de um judeu, dizendo: Iremos convosco, porque temos ouvido que Deus está convosco.” (Zc 8:23).