As Murmurações

…nen­hum de todos os home­ns que viram a min­ha glória e os sinais que fiz no Egip­to e no deser­to, e todavia me ten­taram estas dez vezes, não obe­de­cen­do à min­ha voz, nen­hum deles verá a ter­ra que com jura­men­to prometi a seus pais; nen­hum daque­les que me desprezaram a verá.” Números 14:22,23

Questão

Quais são essas provações que o povo fez a Deus na for­ma de mur­mu­ração e quais as rela­cionadas direc­ta­mente com Cristo?

Con­tex­to bíblico 

Havia pouco tem­po que os hebreus tin­ham deix­a­do as suas casas. Mas, quan­do obser­varam que tin­ham o mar pela frente e o exérci­to egíp­cio na reta­guar­da temer­am por sua vida. Então cla­ma­ram a Deus e a Moisés dizen­do: “Foi porque não havia sepul­cros no Egip­to que de lá nos tiraste para mor­rermos neste deser­to? Por que nos fizeste isto, tiran­do-nos do Egip­to? Não é isto o que te dis­se­mos no Egip­to: Deixa que sir­va­mos aos egíp­cios? Pois mel­hor nos fora servir aos egíp­cios do que mor­rermos no deser­to.” (Êx  14:11,12). “Moisés, porém, disse ao povo: Não temais; estai qui­etos e vede o livra­men­to do Sen­hor, que ele hoje vos fará; porque aos egíp­cios que hoje vistes nun­ca mais tornareis a ver” (Êx 14:13). Esta foi a primeira mur­mu­ração con­tra Deus na pes­soa de Moisés, que foi chama­do e comis­sion­a­do por Ele.

Logo em segui­da, queren­do beber, depararam com água salo­bra, imprópria para beber, e mur­mu­raram nova­mente con­tra o Sen­hor: “E chegaram a Mara, mas não podi­am beber das suas águas, porque eram amar­gas; por isso chamou-se o lugar Mara. E o povo mur­murou con­tra Moisés, dizen­do: Que have­mos de beber? O ser­vo de Deus só tin­ha uma hipótese: levar o prob­le­ma a Deus: Então clam­ou Moisés ao Sen­hor, e o Sen­hor mostrou-lhe uma árvore, e Moisés lançou‑a nas águas, as quais se tornaram doces.” (Êx 15:23–25). Foi a segun­da mur­mu­ração con­tra Deus e seu ser­vo Moisés porque não tiver­am paciên­cia para esper­ar pelo milagre.

Após quarenta e cin­co dias de viagem, encon­tram-se no deser­to de Sim, e aí mur­mu­ram nova­mente con­tra Deus e seu ser­vo, a ter­ceira vez, ago­ra por fal­tar o ali­men­to: “E toda a con­gre­gação dos fil­hos de Israel mur­murou con­tra Moisés e con­tra Arão no deser­to. Quem nos dera que tivésse­mos mor­ri­do pela mão do Sen­hor na ter­ra do Egip­to, quan­do está­va­mos sen­ta­dos jun­to às pan­elas de carne, quan­do comíamos pão até far­tar! porque nos ten­des tira­do para este deser­to para matardes de fome toda esta mul­ti­dão. Então disse o Sen­hor a Moisés: Eis que vos farei chover pão do céu e sairá o povo e col­herá diari­a­mente a porção para cada dia, para que eu o prove se anda em min­ha lei ou não.” (Êx 16:3,4). Deus con­cedeu-lhes maná do céu.

Partin­do dali diri­gi­ram-se para Refidim e acam­param ali. Porém, não havia água para beber, e nova­mente mur­mu­raram con­tra Deus e seu ser­vo. “Então o povo con­tendeu com Moisés, dizen­do: Dá-nos água para beber. Respon­deu-lhes Moisés: Por que con­tendeis comi­go? por que ten­tais ao Sen­hor? Mas o povo, ten­do sede ali, mur­murou con­tra Moisés, dizen­do: Por que nos fizeste subir do Egip­to para nos matares de sede, a nós e aos nos­sos fil­hos e ao nos­so gado? (Êx 17:2,3). Mais uma vez, Moisés só tem uma saí­da: cla­mar ao Sen­hor: “Pelo que Moisés, cla­man­do ao Sen­hor, disse: Que hei de faz­er a este povo? daqui a pouco me ape­dre­jará. Então disse o Sen­hor a Moisés: Pas­sa adi­ante do povo e leva con­ti­go alguns dos anciãos de Israel; toma na mão a tua vara, com que feriste o rio, e vai-te. Eis que eu estarei ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe; ferirás a rocha e dela sairá agua para que o povo pos­sa beber. Assim, pois, fez Moisés à vista dos anciãos de Israel.” (Êx 17:4–6). Esta foi a quar­ta mur­mu­ração do povo por não saber esper­ar pela inter­venção divina.

Ten­do Moisés subido ao monte para falar com Deus, e pas­sa­dos quarenta dias, o povo voltou a mur­mu­rar, pela quin­ta vez, ago­ra dev­i­do à demo­ra de Moisés, e: “ven­do que Moisés tar­da­va em descer do monte, acer­cou-se de Arão e disse-lhe: Lev­an­ta-te, faze-nos um deus que vá adi­ante de nós porque, quan­to a esse Moisés, o homem que nos tirou da ter­ra do Egip­to, não sabe­mos o que lhe acon­te­ceu.” (Êx 32:1). Haven­do con­ce­di­do o ouro trazi­do do Egip­to, fiz­er­am com ele um bez­er­ro e começaram a fes­te­jar. Então disse o Sen­hor a Moisés: Vai, desce porque o teu povo, que fizeste subir da ter­ra do Egip­to, se cor­rompeu; depres­sa se desvi­ou do cam­in­ho que eu lhe ordenei; eles fiz­er­am para si um bez­er­ro de fundição e ado­raram-no, e ofer­e­ce­r­am-lhe sac­ri­fí­cios, e dis­ser­am: Eis aqui, ó Israel, o teu deus, que te tirou da ter­ra do Egip­to.” (Êx 32:7,8).

Mais tarde, “o povo tornou-se queixoso, falan­do o que era mau aos ouvi­dos do Sen­hor; e quan­do o Sen­hor o ouviu, acen­deu-se a sua ira; o fogo do Sen­hor irrompeu entre eles e devorou as extrem­i­dades do arra­ial. Então o povo clam­ou a Moisés, e Moisés orou ao Sen­hor, e o fogo se apagou.” (Nm 11:1,2). “Ora, o vul­go que esta­va no meio deles veio a ter grande dese­jo, pelo que os fil­hos de Israel tam­bém tornaram a chorar e dis­ser­am: Quem nos dará carne a com­er? Lem­bramo-nos dos peix­es que no Egip­to comíamos de graça, e dos pepinos, dos melões, dos alhos por­ros, das cebo­las e dos alhos. Mas ago­ra a nos­sa alma se seca; coisa nen­hu­ma há senão este maná diante dos nos­sos olhos.” (Nm 11:4–6).

Moisés ale­ga per­ante Deus que o seu far­do é demasi­a­do pesa­do e rece­beu esta men­sagem para o povo descon­tente: “o Sen­hor vos dará carne e com­ereis. Não com­ereis um dia, nem dois dias, nem cin­co dias, nem dez dias, nem vinte dias; mas um mês inteiro, até vos sair pelas nar­i­nas, até que se vos torne coisa nojen­ta; porquan­to rejeitastes ao Sen­hor, que está no meio de vós, e chorastes diante dele, dizen­do: Por que saí­mos do Egip­to? (Nm 11:19,20). E a respos­ta não demor­ou: “Soprou, então, um ven­to da parte do Sen­hor e, do lado do mar, trouxe codor­nizes que deixou cair jun­to ao arra­ial quase cam­in­ho de um dia de um e de out­ro lado, à roda do arra­ial, a cer­ca de dois côva­dos da ter­ra. Então o povo, lev­an­tan­do-se, col­heu as codor­nizes por todo aque­le dia e toda aque­la noite, e por todo o dia seguinte; o que col­heu menos, col­heu dez omeres. E as esten­der­am para si ao redor do arra­ial.” (Nm 11:31,32). Esta foi a sex­ta vez que a impaciên­cia do povo provo­cou a ira de Deus.

Na séti­ma mur­mu­ração, Arão e Miri­am con­tes­taram a autori­dade de Moisés e dis­ser­am: “Por­ven­tu­ra falou o Sen­hor somente por Moisés? Não falou tam­bém por nós? E o Sen­hor o ouviu.” (Nm 12:2). E Deus chama os dois e diz-lhes: “Por que, pois, não temestes falar con­tra o meu ser­vo, con­tra Moisés?” (Nm 12:8). Vis­to que Deus o tin­ha comis­sion­a­do para o servir, toda a afronta era dirigi­da con­tra Si mes­mo. “Assim se acen­deu a ira do Sen­hor con­tra eles e ele se retirou; tam­bém a nuvem se retirou de sobre a ten­da; e eis que Mir­iã se tornara lep­rosa, bran­ca como a neve; e olhou Arão para Mir­iã e eis que esta­va lep­rosa.” (Nm 12:9,10). Aqui­lo que Deus faz ninguém pode con­tes­tar, porque Ele é sober­a­no jamais alguém dev­erá fazê-lo. Então os dois irmãos rog­a­ram ao Sen­hor pela cura da sua irmã, mas Deus orde­nou que estivesse fora do arra­ial durante sete dias até à purifi­cação total.

Quan­do Moisés orde­nou que espi­assem a ter­ra prometi­da e os espias regres­saram com a notí­cia, dez deles ate­morizaram o povo com o rela­to da existên­cia de gigantes perigosos naque­la ter­ra, pelo que o povo mur­murou nova­mente. “E todos os fil­hos de Israel mur­mu­raram con­tra Moisés e Arão; e toda a con­gre­gação lhes disse: Antes tivésse­mos mor­ri­do na ter­ra do Egip­to, ou tivésse­mos mor­ri­do neste deser­to.” (Nm 14:2). “E diziam uns aos out­ros: Con­sti­tu­amos um por chefe o volte­mos para o Egip­to.” (Nm 14:4). Esta foi a oita­va mur­mu­ração pela qual provo­caram Deus.

Final­mente, alguém tin­ha uma boa notí­cia para entre­gar. Josué e Calebe eram mais con­fi­antes a ani­maram o povo com as seguintes palavras: “A ter­ra, pela qual passá­mos para a espi­ar, é ter­ra muitís­si­mo boa. Se o Sen­hor se agradar de nós, então nos intro­duzirá nes­ta ter­ra e no-la dará, ter­ra que mana leite e mel. Tão somente não sejais rebeldes con­tra o Sen­hor e não temais o povo des­ta ter­ra, porquan­to eles são o nos­so pão. Retirou-se deles a sua defe­sa e o Sen­hor está connosco; não os temais.” (Nm 14:7–9). Porém, ape­sar da boa notí­cia, o povo per­maneceu rebelde, pelo que “Disse então o Sen­hor a Moisés: Até quan­do me desprezará este povo e até quan­do não crerá em mim, ape­sar de todos os sinais que ten­ho feito no meio dele?” (Nm 14:11). Como lemos na epís­to­la aos Hebreus: “Ora, sem fé é impos­sív­el agradar a Deus; porque é necessário que aque­le que se aprox­i­ma de Deus creia que ele existe e que é galar­doador dos que o bus­cam.” (Hb 11:6).

A nona vez ficou mar­ca­da pela con­tes­tação à lid­er­ança de Moisés e Arão por três home­ns ambi­ciosos que ajun­taram out­ros “e ajun­tan­do-se con­tra Moisés e con­tra Arão, dis­ser­am-lhes: Demais é o que vos arro­gais a vós, vis­to que toda a con­gre­gação e san­ta, todos eles são san­tos, e o Sen­hor está no meio deles; por que, pois, vos ele­vais sobre a assem­bleia do Sen­hor?” (Nm 16:3). Des­ta for­ma provo­caram grande descon­tenta­men­to entre o povo e irri­taram nova­mente o Sen­hor que os lib­er­tara da escra­vatu­ra egíp­cia. Seria ópti­mo ler o referi­do tre­cho a fim de recor­dar a total­i­dade do suce­di­do. Moisés teve nova­mente que inter­vir per­ante Deus e o povo “e acon­te­ceu que, aca­ban­do ele de falar todas estas palavras, a ter­ra que esta­va debaixo deles se fend­eu; e a ter­ra abriu a boca e os tragou com as suas famílias, como tam­bém a todos os home­ns que per­ten­ci­am a Corá, e a toda a sua fazen­da.” (Nm 16:31,32). Qual­quer mur­mu­ração, rebe­lião, ou con­tes­tação dos desígnios de Deus rece­berão a jus­ta retribuição.

A déci­ma mur­mu­ração foi par­tic­i­pa­da pela total­i­dade dos hebreus, descon­tentes pelo mor­ticínio havi­do por causa da rebe­lião no dia ante­ri­or.  “Mas no dia seguinte toda a con­gre­gação dos fil­hos de Israel mur­murou con­tra Moisés e Arão, dizen­do: Vós matastes o povo do Sen­hor.” (Nm 16:41). Observe­mos a nat­u­ral­i­dade com que se atribuem cul­pas a out­ros por causa dos próprios erros. Mas Deus não pode ficar indifer­ente a rebe­liões, muito menos enquan­to pere­gri­navam no deser­to rumo à ter­ra prometi­da sob lid­er­ança de Moisés, a quem ele comis­sion­ara para o efeito. “Ora, os que mor­reram da pra­ga foram catorze mil e sete­cen­tos, além dos que mor­reram no caso de Corá.” (Nm 16:49).

Con­clusão

À guisa de con­clusão repro­du­zo a advertên­cia mile­nar do após­to­lo Paulo: “Pois não quero, irmãos, que ignor­eis que nos­sos pais estiver­am todos debaixo da nuvem, e todos pas­saram pelo mar; e, na nuvem e no mar, todos foram bap­ti­za­dos em Moisés e todos com­er­am do mes­mo ali­men­to espir­i­tu­al; e beber­am todos da mes­ma bebi­da espir­i­tu­al, porque bebi­am da pedra espir­i­tu­al que os acom­pan­ha­va; e a pedra era Cristo. Mas Deus não se agradou da maior parte deles; pelo que foram prostra­dos no deser­to. Ora, estas coisas nos foram feitas para exem­p­lo, a fim de que não cobice­mos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos torneis, pois, idóla­tras, como alguns deles, con­forme está escrito: O povo assen­tou-se a com­er e a beber, e levan­tou-se para fol­gar. Nem nos pros­ti­tu­amos, como alguns deles fiz­er­am e caíram num só dia vinte e três mil. E não ten­te­mos o Sen­hor, como alguns deles o ten­taram e pere­ce­r­am pelas ser­pentes. E não mur­mureis, como alguns deles mur­mu­raram e pere­ce­r­am pelo destru­idor. Ora, tudo isto lhes acon­te­cia como exem­p­lo e foi escrito para avi­so nos­so, para quem já são chega­dos os fins dos sécu­los.” (1 Co 10:1–11).

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