“Prosseguiu Deus: Toma agora teu filho; o teu único filho, Isaque, a quem amas; vai à terra de Moriá e oferece‑o ali em holocausto sobre um dos montes que te hei-de mostrar.” Génesis 22.2
Questão
Sendo Deus bom, como é possível que tenha matado e mandado matar, não somente o filho de Abraão, mas outras pessoas noutras ocasiões?
Contexto bíblico
Logo no princípio das Sagradas Escrituras encontramos o aviso do Criador ao homem que criara que, se acaso desobedecesse à sua ordenança certamente morreria. “Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres certamente morrerás.” (Gn 2:16,17). Neste primeiro trecho tomamos conhecimento que a desobediência a Deus é a causa da morte.
No tempo de Noé Deus viu que o homem havia corrompido a terra moralmente e decidiu destruir a criação para a recomeçar a partir do justo Noé. “Então disse Deus a Noé: O fim de toda carne é chegado perante mim porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os destruirei juntamente com a terra. (cf. Gn 6.12,13). “Assim, foram exterminadas todas as criaturas que havia sobre a face da terra, tanto o homem como o gado, o réptil e as aves do céu; todos foram exterminados da terra; ficou somente Noé e os que com ele estavam na arca.” (Gn 7:23).
Por causa da idolatria, do pecado, e da imoralidade existentes na terra de Canaã, Moisés deu as seguintes instruções aos hebreus libertados do Egipto: “Quando o Senhor teu Deus te houver introduzido na terra a que vais, a fim de possuí-la, e tiver lançado fora de diante de ti muitas nações, a saber, os heteus, os girgaseus, os amorreus, os cananeus, os perizeus, os heveus e os jebuseus, sete nações mais numerosas e mais poderosas do que tu; e quando o Senhor teu Deus as tiver entregue a ti, e as ferires, totalmente as destruirás; não farás com elas pacto algum, nem terás piedade delas; não contrairás com elas matrimónios; não darás tuas filhas a seus filhos, e não tomarás suas filhas para teus filhos; pois fariam teus filhos desviarem-se de mim para servirem a outros deuses; e a ira do Senhor se acenderia contra vós, e depressa vos consumiria.” (cf. Dt 7:1–4). Como observamos, o Senhor ordenou a destruição daqueles povos devido ao seu pecado, e ao risco que daí adviria ao seu povo eleito.
Também ditou um aviso acerca dos falsos profetas que, por desviarem as pessoas do caminho correcto, deveriam morrer: “E aquele profeta, ou aquele sonhador, morrerá, pois falou rebeldia contra o Senhor vosso Deus, que vos tirou da terra do Egipto e vos resgatou da casa da servidão, para vos desviar do caminho em que o Senhor vosso Deus vos ordenou que andásseis; assim exterminareis o mal do meio vós.” (Dt 13:5).
A mesma sorte foi ditada para os familiares que tentassem desviar algum dos caminhos do Senhor. Deuteronómio 13:6–11 narra o seguinte: “Quando teu irmão, filho da tua mãe, ou teu filho, ou tua filha, ou a mulher do teu seio, ou teu amigo que te é como a tua alma, te incitar em segredo, dizendo: Vamos e sirvamos a outros deuses! — deuses que nunca conheceste, nem tu nem teus pais, dentre os deuses dos povos que estão em redor de ti, perto ou longe de ti, desde uma extremidade da terra até a outra, não consentirás com ele, nem o ouvirás, nem o teu olho terá piedade dele, nem o pouparás, nem o esconderás, mas certamente o matarás; a tua mão será a primeira contra ele para o matar, e depois a mão de todo o povo; e o apedrejarás até que morra, pois procurou apartar-te do Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egipto, da casa da servidão. Todo o Israel o ouvirá, e temerá, e não se tornará a praticar semelhante iniquidade no meio de ti.”
A Sagrada Escritura narra, ainda, um episódio especial, em que Deus pede a Abraão algo muito difícil para um pai extremoso. E, mais difícil ainda, visto que lhe pediu para sacrificar o seu filho Isaque, o qual recebera por cumprimento da promessa divina, a fim de ser o seu herdeiro legal. Esse relato completo encontra-se em Génesis capítulo vinte e dois. Abraão não hesitou em imolar o seu filho sobre um altar de pedra no monte Moriá. Porém, quando tudo estava preparado para o sacrifício, um anjo bradou céu dizendo: “Abraão… não estendas a mão sobre o mancebo e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, visto que não me negaste teu filho, o teu único filho. Nisso levantou Abraão os olhos e olhou, e eis atrás de si um carneiro embaraçado pelos chifres no mato; e foi Abraão, tomou o carneiro e o ofereceu em holocausto em lugar de seu filho.” (Gn 22:12,13).
Se Abraão negasse sacrificar o seu filho por ordem do Soberano Deus, ficaria em desvantagem aos idólatras da região, que ofereciam seus filhos em sacrifício aos falsos deuses. Ao obedecer ao pedido do Senhor, Abraão provou que Deus tinha a primazia na sua vida e, sobretudo, acreditava que Deus era poderoso para lhe restituir o filho. Por isso foi abençoado com o retorno.
Muitos outros exemplos de morte são narrados nas Sagradas Escrituras, e todos devido ao pecado de idolatria, causador de apostasia, porque o salário do pecado é a morte, como diz Paulo: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rm 6:23).
Enquanto Isaque teve um cordeiro do rebanho, fornecido por Deus, como substituto da sua morte, nós tivemos a substituir-nos o Cordeiro de Deus, fornecido pelo próprio Pai, a fim de não sofrermos a morte, mas termos a possibilidade de usufruir a vida eterna.
De facto, em João 3:16,17 está escrito: “que Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” Deus, na sua grande misericórdia, entregou o seu único filho nas mãos de pecadores a fim de ser morto em dos pecadores.
Conclusão
Por causa da desobediência e do pecado, todos somos réus de morte, mas Deus, no infinito amor, transferiu a nossa culpa e o nosso castigo para seu filho, o Senhor Jesus, o qual sofreu a morte em nosso lugar. Agora, quem crê nele não será condenado, mas quem não crê permanece na condenação que lhe foi imputada. Como está escrito: “Quem crê nele não é condenado; mas, quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigénito Filho de Deus.” (Jo 3:18).