Written on Outubro 8th, 2007 by Constantino Ferreira
A Missão dos Bispos
Actos 20:28
“Cuidai pois de vós mesmos e de todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus que ele adquiriu com seu próprio sangue.”
Questão
Qual é a origem dos bispos? Quem é um bispo e qual a sua função? Quais os nossos deveres em relação aos bispos?
Contexto bíblico
Logo no início a igreja seguiu o costume hebraico, à semelhança da sinagoga, de eleger anciãos para dirigir as suas comunidades locais, conforme Actos 14:23: “E, havendo-lhes ordenado anciãos em cada igreja, e orado com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido.” Quando houve necessidade de resolver a questão da circuncisão dos gentios, Paulo e Barnabé tiveram que deslocar-se a Jerusalém para serem ouvidos em concílio. Ora, esse primeiro concílio era formado por apóstolos, profetas e anciãos, de acordo com o capítulo quinze.
Cabe esclarecer, aqui, que a denominação portuguesa ‘ancião’ provém do latim ‘antianu’ que significa homem velho e venerado. Achamos curioso o facto de a Vulgata Latina manter na sua tradução, no versículo dois, tal como no vinte e três do capítulo catorze, o vocábulo grego transliterado ‘presbyteros’; mas nos seguintes consta ‘seniores’. Então, conhecemos três sinónimos que representam a mesma pessoa: antianu, seniore, e presbyteros.
Numa das suas viagens missionárias, enquanto Paulo estava em Mileto, mandou chamar os anciãos (presbíteros) da igreja em Éfeso para conferenciar com eles, conforme o relato de Actos 20:17. E tendo eles chegado, compartilhou as suas preocupações, seus planos, e advertiu-os da sua tríplice missão, conforme o trecho supra: deviam cuidar de si mesmos, alimentar os cristãos com a doutrina correcta e defendê-los dos falsos mestres. Foi a estes ‘antianus’, ou ‘presbyteros’, que o Espírito Santo constituiu bispos para vigiar o rebanho do Senhor. Pois a palavra grega equivalente a bispo é ‘episkopos’ e significa ‘aquele que olha sobre’. Paulo teve o cuidado de revelar as características do presbítero a investir no ofício de bispo desta maneira: “É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, moderado, sóbrio, ordeiro, hospitaleiro, apto para ensinar;” etc. (1 Tm 3:2).
O ancião deve ter maturidade suficiente para assumir o cargo de vigiar pelas almas do povo do Senhor. Isto é, deve estar acima do povo que Deus colocou ao seu cuidado. E a Tito revela algo mais, igualmente de suprema importância: “Por esta causa te deixei em Creta para que pusesses em boa ordem o que ainda não o está, e em cada cidade estabelecesses anciãos, como já te mandei; alguém que seja irrepreensível, marido de uma mulher, tendo filhos crentes que não sejam acusados de dissolução, nem sejam desobedientes. Pois é necessário que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não soberbo, nem irascível, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância; mas hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, temperado; conservando o ensino segundo a palavra da fé, para que seja poderoso, tanto para exortar na sã doutrina como para convencer os contradizentes.” (Tt 1:5–9).
Pedro esclarece a função do bispo na referência que faz ao cuidado que o Senhor Jesus tem pelos cristãos: “Porque éreis desgarrados, como ovelhas, mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas.” (1 Pd 2:25). Isto é, Jesus como pastor vigia pelas nossas almas. Ele até disse que: “aquele que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (Jo 6:37). E mais: “Enquanto estava com eles eu guardava-os em teu nome; guardei aqueles que me deste e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição para que se cumprisse a Escritura.” (Jo 17:12). (referência a Judas Iscariotes, que o entregou à morte).
Embora apóstolo eleito pelo Senhor, Pedro considera-se presbítero em igualdade com os outros na igreja universal, conforme a sua confissão: “Aos anciãos, pois, que há entre vós, rogo eu, que sou ancião com eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e participante da glória que se há-de revelar: Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores sobre os que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho.” (1 Pd 5:1–3).
Acontece o mesmo com o apóstolo João, segundo o seu testemunho: “O ancião (presbítero) à senhora eleita, e a seus filhos, aos quais eu amo em verdade, e não somente eu, mas também todos os que conhecem a verdade.” (2 Jo 1:1). “O ancião (presbítero) ao amado Gaio, a quem eu amo de verdade.” (3 Jo 1:1). Consideremos agora algumas instruções acerca dos deveres do povo em relação aos presbíteros: Primeiro, submissão: “Obedecei e submetei-vos aos vossos líderes porque velam por vossas almas, como quem há-de prestar contas delas, para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil.” (Hb 13:17). Segundo, confiança: “Está algum de vós doente? Chame os anciãos da igreja e orem sobre ele ungido‑o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados ser-lhe-ão perdoados.” (Tg 5:14,5).
Esclareça-se que esta unção não tem semelhança alguma com a unção do Templo ou dos ministros de culto. É simplesmente um toque com óleo, usado como símbolo despertador de fé na oração feita pelo presbítero. E, ainda, o trecho enfatiza a oração da fé, não o óleo usado. Terceiro, os presbíteros bons governantes devem receber honra duplicada: “Os anciãos que governam bem sejam tidos por dignos de duplicada honra, especialmente os que labutam na pregação e no ensino.” (1 Tm 5:17).
Conclusão
Os bispos, ou presbíteros, da igreja tiveram origem nos anciãos da sinagoga em Israel, homens maduros que recebem a função de pastorear, alimentando e vigiando o rebanho do Senhor. Os versículos dezassete e o vinte e oito do capítulo vinte de Actos contêm as três definições do bispo, que são na sua ordem lógica: Presbítero-Bispo-Pastor. Isto é, o presbítero é ordenado bispo a fim de pastorear o rebanho do Senhor. Ele conserva a sã doutrina segundo as Sagradas Escrituras e defende o povo dos falsos ensinos. Deve manter uma vida exemplar, tanto no lar como fora dele, e servir o povo sem avareza. Os cristãos devem reconhecer o seu ofício e submeter-se à sua orientação. Quando houver alguma enfermidade podem chamá-lo a fim de orar pela cura. Devem ainda tributar-lhe a devida honra, como ensinado nas Escrituras Sagradas: A quem honra, honra.
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