A Ceia do Senhor

Pás­coa hebraica

1 Coríntios 11:33

Portanto, meus irmãos, quando vos ajuntais para comer esperai uns pelos outros.” 

Questão

O trecho em epígrafe estará instruindo os cristãos a esperar uns pelos outros para tomarem os elementos da santa ceia, ou fará referência somente à refeição comunitária, ou festa do amor, decorrida imediatamente antes de tomar os símbolos de Cristo?

Contexto bíblico

A fim de examinar o contexto teremos que dividir o capítulo onze em quatro partes:

1. 1–16, Cristo como exemplo. Nos primeiros versículos Paulo louva a igreja pelo facto de se lembrar dele e de observar os seus ensinamentos. E passa a referir-se à posição social do homem e da mulher, segundo o costume contemporâneo. Assim com Cristo está em relação a seu Pai, do mesmo modo devem estar as mulheres em relação aos seus maridos.

2. 17–22, A refeição comunitária. Desde muito cedo os cristãos celebravam uma refeição comunitária, à semelhança da páscoa hebraica, cuja narrativa se encontra em Êxodo 12.3,4. Pois, foi essa refeição que Jesus celebrou com os discípulos na sua última páscoa na terra. Alguns cristãos, que participavam na refeição comunitária, antecipavam-se aos atrasados, (recorde-se que não havia relógios que indicassem as horas como nós possuímos hoje) e quando estes chegavam já os primeiros estavam fartos e, alguns, embriagados, enquanto os atrasados não tinham que comer, conforme narra o versículo vinte e um.

E Paulo fecha desta forma o assunto: “Não tendes porventura casas onde comer e beber? Ou desprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto não vos louvo” (1 Co 11:22). Então, faz aqui um parêntese para tratar dos símbolos de Cristo e retomar o mesmo tema nos versículos trinta e três e trinta e quatro.

3. 23–26, Os símbolos de Cristo. Nos versículos ao lado, Paulo narra que Jesus tomou um pão, agradeceu, partiu‑o (naturalmente ao meio) e repartiu pelos discípulos. Depois tomou um cálice, agradeceu e repartiu‑o por todos. Lucas escreveu as palavras de Jesus acerca desse facto: “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta páscoa antes da minha paixão… E tomando pão, e havendo dado graças, partiu‑o e deu-lho dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.” Semelhantemente, depois da ceia tomou o cálice dizendo: Este cálice é o novo pacto no meu sangue, que é derramado por vós.” (Lc 22.18–20).

Durante a refeição bebiam quatro copos de vinho misturado com dois terços de água. O chefe de família pronunciava as graças conforme iam comendo e bebendo, cujo fundamento teológico se encontra em Êxodo 6.6,7, relacionado com as promessas de Deus. O copo mencionado acima refere-se ao terceiro, chamado o copo da redenção. A redenção apontava para a libertação dos hebreus da escravidão do Egipto, e Cristo refere-se aqui à libertação da humanidade do castigo devido ao pecado. O quarto era o cálice da esperança, o qual ele não bebeu e deixou até que o beba no reino de Deus (Lc 22.18). Note-se que durante a distribuição dos símbolos não havia necessidade de esperar por alguém, pois essa espera devia acontecer antes de começarem a comer para que todos comungassem da mesma refeição.

4. 27–34, Não tomar a refeição levianamente. “De modo que qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor.” (1 Co 11:27). Comer ou beber indignamente significa ter perdido a dignidade para participar do pão e do vinho, como símbolos do corpo de Cristo, em virtude de desprezarem os mais pobres e atrasados, não esperando por eles a fim de comungarem da mesma refeição. Paulo aconselha o exame pessoal, acerca deste assunto, para evitarem o risco de participar dos símbolos sem a devida dignidade para o efeito, e vir a sofrer por essa causa. E continua: “Portanto, meus irmãos, quando vos ajuntais para comer esperai uns pelos outros” (1 Co 11:33). Ele quer dizer: Esperai que estejam todos à mesa para começarem a comer a refeição da páscoa.

Contexto social
Naqueles tempos as famílias não comiam a refeição da noite sem que todos tivessem chegado dos seus respectivos trabalhos. Porque essa refeição era a celebração da comunhão familiar, ninguém comia sem esperar pelos demais membros da família, porque se o fizessem seria uma vergonha para todos. “Mas se a família for pequena demais para um cordeiro, tomá-lo‑á juntamente com o vizinho mais próximo de sua casa, conforme o número de almas; conforme ao comer de cada um fareis a conta para o cordeiro” (Êx 12:4).  Naturalmente, ninguém poderia comer sem que todos os membros da família estivessem presentes. Eu recordo-me dessa prática enquanto frequentava a escola básica na minha aldeia.

Retoma do tema 
Logo a seguir, o apóstolo retoma o tema anterior, deixado no versículo vinte e dois, e ensina os cristãos acerca da responsabilidade de compreender o facto de ser membro do corpo de Cristo e da família de Deus: “Portanto, meus irmãos, quando vos ajuntais para comer esperai uns pelos outros. Mas, se alguém tiver fome coma em casa, para não vos reunirdes para condenação” (1 Co 11:33,34). Por este motivo acabou o uso da refeição comunitária regular, sendo actualmente realizada uma refeição colectiva anual por algumas comunidades cristãs.

Ler ainda A Santa Ceia

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