Written on Dezembro 3rd, 2007 by Constantino Ferreira
Jesus Foi Gerado
Hebreus 1:5
“Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho?”
Questão
Primeiramente, a quem se refere este trecho na profecia? Segundo, qual o significado de ‘hoje’ também referido na geração do filho? Se o Filho de Deus foi gerado como é Ele eterno?
Contexto bíblico
A palavra ‘filho’ é usada numa grande variedade de sentidos, como por exemplo: um filho físico, um descendente remoto ou próximo, um filho adoptado, um protegido, um servo nascido em casa, ou até, alguém parecido com outro. Eis alguns exemplos: Adão é chamado filho de Deus sem ter sido gerado (cf. Lc 3:38). Jesus, é filho de David sem ter sido gerado por ele. David é filho de Abraão sem ter sido gerado por Abraão (cf. Mt 1:1). A descendência do piedoso Sete: “viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram” (Gn 6:2). Os servos de Naamã trataram-no por ‘meu pai’ (cf. 2 Rs 5:13). Abraão foi declarado pai de muitas nações (cf. Gn 17:4). Acerca de Israel diz Deus: “porque sou um pai para Israel, e Efraim é o meu primogénito” (cf. Jr 31:9).
A profecia da geração do filho consta no Salmo dois que diz: “Eu tenho estabelecido o meu Rei sobre Sião, meu santo monte. Falarei do decreto do Senhor, ele me disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por possessão.” (Sl 2:6–8). Consideremos que a profecia pode ter dois ou mais cumprimentos, presente e futuro próximo ou remoto. Agora concentremo-nos em David que, enquanto era pastor dum pequeno rebanho de seu pai, Deus escolheu para ser o futuro rei de Israel.
“Então Samuel tomou o vaso de azeite e ungiu‑o no meio de seus irmãos e, daquele dia em diante, o Espírito do Senhor se apoderou de David.” (1 Sm 16:13). Mais tarde, Deus ordenou ao profeta Natã que entregasse esta mensagem a David: “Agora, pois, assim dirás ao meu servo David: Assim diz o Senhor dos exércitos: Eu te tomei da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses príncipe sobre o meu povo, sobre Israel” (2 Sm 7:8). Naquele dia David foi adoptado por Deus como seu filho, e deste modo dele procederia o real filho de Deus. E ao profeta Gade deu a seguinte: “Naquele mesmo dia veio Gade a Davi, e lhe disse: Sobe, levanta ao Senhor um altar na eira de Araúna, o jebuseu: Subiu, pois, Davi, conforme a palavra de Gade, como o Senhor havia ordenado.” (2 Sm 24:18,19). Essa eira estava no monte Sião, onde Deus colocou a sede do seu reino.
O salmista escreveu para cantar sobre David: “Fiz um pacto com o meu escolhido; jurei ao meu servo Davi: Estabelecerei para sempre a tua descendência e firmarei o teu trono por todas as gerações.” (Sl 89:3,4). Aqui, Deus está declarando o seu pacto eterno com David e a sua descendência, cuja semente final é Jesus, o messias prometido. Mas, a seguir vem uma referência a Salomão, o descendente próximo: “Quando teus dias forem completos e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, que sair das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei pai, e ele me será filho. E, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens e com açoites de filhos de homens” (2 Sm 7:12–14).
Passados muitos anos, e em tempo de cativeiro, Deus ordenou ao profeta Jeremias que entregasse a seguinte mensagem: “Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e procederá sabiamente, executando o juízo e a justiça na terra.” (Jr 23:5). É fácil apreender que se refere directamente a Jesus como rei justo e sábio. Os anos passaram-se, e um anjo foi enviado a Maria com esta mensagem: “Disse-lhe então o anjo: Não temas, Maria; pois achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado filho do Altíssimo; o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi seu pai; e reinará eternamente sobre a casa de Jacó e o seu reino não terá fim.” (Lc 1:30–33). Note o que está escrito acima: ‘Ele será chamado filho do Altíssimo’ e receberá o trono de ‘David seu pai’.
Agora observemos o “Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1:1). Ali consta ‘Jesus filho de David’ como descendente de David e herdeiro do trono. Quando José descobriu que Maria estava grávida projectou abandoná-la, porém, recebeu este avisou: “eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela está gerado é do Espírito Santo; ela dará à luz um filho, a quem chamarás JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” (Mt 1:20,21). Observamos que o Espírito Santo gerou o Filho de Deus em Maria, o qual havia sido prometido muitos séculos antes. “Ora, tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito da parte do Senhor pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, o qual será chamado EMANUEL, que traduzido é: Deus connosco.” (Mt 1:22,23; cf. Is 7:14).
Quando fazia uma exposição histórica perante os judeus, em sua defesa, fez referência a David e a Jesus conforme a promessa: “E tendo deposto a este (a Saul), levantou-lhes como rei a Davi, ao qual também, dando testemunho, disse: Achei a Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará toda a minha vontade. Da descendência deste, conforme a promessa, trouxe Deus a Israel um Salvador, Jesus.” (At 13:22,23). E a narrativa de Lucas continua: “E nós vos anunciamos as boas novas da promessa, feita aos pais, a qual Deus nos tem cumprido, a nós, filhos deles, levantando a Jesus, como também está escrito no salmo segundo: Tu és meu Filho, hoje te gerei.” (At 13:32,33).
Na sua epístola aos romanos, Paulo manifesta Jesus como filho de David e Filho de Deus igualmente: “acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne, e que foi declarado Filho de Deus em poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos — Jesus Cristo nosso Senhor” (Rm 1:3,4). E aos coríntios escreve: “Assim também está escrito: O primeiro homem, Adão, tornou-se alma vivente; o último Adão, espírito vivificante… O primeiro homem, sendo da terra, é terreno; o segundo homem é do céu.” (1 Co 15:45,47). Enquanto, através da carne, era descendente de David, era também Filho de Deus através do espírito. A parte humana provém de David, mas a parte divina provém de Deus. Porque, se Deus é espírito, o filho de Deus é igualmente espírito com características de santidade iguais às do Pai. Não resisto à tentação de incluir aqui a versão latina do versículo quatro, a qual todos podem entender perfeitamente: “qui praedestinatus est Filius Dei in virtute secundum Spiritum sanctificationis ex resurrectione mortuorum Iesu Christi Domini nostri”. Isto é, Jesus foi predestinado Filho de Deus numa impressionante atitude triunfante sobre a morte pela ressurreição dos mortos.
E o autor da epístola aos Hebreus declara que Ele foi “feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles. Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho?” (Hb 1:4,5). E mais adiante acrescenta: “assim, também Cristo não se glorificou a si mesmo para se fazer sumo sacerdote, mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei” (Hb 5:5).
A respeito do tempo da sua geração encontramos um bom exemplo no livro de Apocalipse, escrito por João: “com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor.” (Ap 5:12). Aqui fala da sua morte vitoriosa na cruz e consequente glória. A seguir incluímos o versículo testemunhando da sua morte antes da fundação do mundo: “E adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.” (Ap 13:8).
Se o Cordeiro de Deus foi declarado morto desde a fundação do mundo, é porque tinha sido declarado Filho antes da fundação do mundo. Isto é comprovado pela Escritura que diz: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.” (Jo 1:3). E na epístola aos Hebreus consta esta declaração: “nestes últimos dias a nós falou-nos pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez também o mundo” (Hb 1:2). “sendo ele o resplendor da sua glória e a expressa imagem do seu Ser, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo ele mesmo feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas” (Hb 1:3). Aquele que veio do céu viveu uma vida celestial e voltou para o céu com a promessa de voltar do céu, unindo o céu e a terra para que possamos viver com Ele eternamente no céu.
Conclusão
De acordo com o que foi escrito acima resumimos que o Messias foi predestinado Filho de Deus muito antes da fundação do mundo, visto que tudo foi feito por Ele. Concernente ao nascimento físico, essa declaração profética teve o seu cumprimento quando o mesmo foi anunciado pelo anjo a Maria e esta aceitou gerar um homem para Deus lhe chamar seu filho, de acordo com as Escrituras: “Eis que conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado filho do Altíssimo; o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi seu pai” (Lc 1:31,32). Disse então Maria. Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1:38). Então, “vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei para resgatar os que estavam debaixo de lei a fim de recebermos a adopção de filhos.” (Gl 4:4,5).
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