Os sete defeitos que o Senhor aborrece
“Sim, há sete que ele abomina: olhos altivos, língua mentirosa, e mãos que derramam sangue inocente; coração que maquina projectos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal; testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos. (Pv 6:16–19)
I. Olhos altivos
Altivez é o mesmo que arrogância, soberba, orgulho. Este é o primeiro estado de espírito que desagrada a Deus e leva à ruína, conforme atesta o livro de provérbios.[i] E Isaías assevera que a altivez desaparecerá, dando lugar à humildade: “Os olhos altivos do homem serão abatidos, e a altivez dos varões será humilhada, e só o Senhor será exaltado naquele dia”.[ii]
A soberba é motivo de desonra, como somos informados em Pv 11:2. A soberba conduz também à contenda, de acordo com Pv 13:10. Tiago vai ainda mais longe na sua descrição: “Estes são murmuradores, queixosos, andando segundo as suas concupiscências; e a sua boca diz coisas muito arrogantes, adulando pessoas por causa do interesse. (Jd 1:16)
Quando orgulhosamente nos elevamos acima dos outros estamos a provocar o próximo e a cair em desgraça. Por isso, é aconselhado evitar a soberba, ou arrogância, e procurar agradar a Deus com humildade.
II. Língua mentirosa
A mentira é oposta à verdade, é falsidade, é lesiva e prejudica o próximo assim como aquele que mente. Os provérbios têm uma definição muito clara sobre o duplo efeito da língua: “A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do seu fruto.” (Pv 18:21) Enquanto o bom uso da língua produz edificação, o mau uso produz morte.
O salmista tem um conselho sábio para todos: “Guarda a tua língua do mal, e os teus lábios de falarem dolosamente.”[iii] E testemunha a decisão que tomou a respeito da sua língua: “Disse eu: Guardarei os meus caminhos para não pecar com a minha língua; guardarei a minha boca com uma mordaça, enquanto o ímpio estiver diante de mim.[iv]
E Tiago e Pedro têm um importante conselho para nós: “Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, mas engana o seu coração, a sua religião é vã (não vale nada).” Tg 1:26 “Pois, quem quer amar a vida, e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano.” (1 Pd 3:10).
III. Mãos sanguinárias
Mãos sanguinárias são mãos criminosas, prontas para derramar sangue inocente. Aconteceu logo no início da criação com o filho mais velho do casal; Caim cometeu o primeiro crime e verteu sangue inocente. (Gn 4:8–10) Mais tarde Deus legislou sobre o crime de sangue desta forma bem dura: “Quem derramar sangue de homem, pelo homem será o seu sangue derramado; porque Deus fez o homem à sua imagem.”[v]
Jesus e Paulo ocuparam-se igualmente deste assunto corroborando a legislação anterior: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e, Quem matar será réu de juízo.”[vi] Pois quem faz injustiça receberá a paga da injustiça que fez; e não há acepção de pessoas.[vii]
IV. Coração vicioso
Por coração vicioso entende-se aquele que tem vícios, é incorrecto, depravado, corrupto. É contrário a certos preceitos morais. Assim se expressou o Senhor em relação aos fariseus contemporâneos: “Raça de víboras! como podeis vós falar coisas boas, sendo maus? pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca.”[viii]
E continua a o Senhor com muita autoridade: “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.”[ix] Atentemos no conselho do autor da epístola aos Hebreus que diz: “Vede, irmãos, que nunca se ache em qualquer de vós um perverso coração de incredulidade para se apartar do Deus vivo.” (Hb 3:12)
V. Pés maldosos
Os pés maldosos são aqueles que estão prontos para ir a qualquer lugar e cometer maldade, perversidade, tropelias, sempre em oposição aos caminhos correctos do Senhor. Os Seus caminhos são orientados por mandamentos que, geralmente, são transgredidos pelas pessoas de má índole. Moisés escreveu que Israel deveria guardar os mandamentos de Deus para andar nos seus caminhos e demonstrar verdadeiro temor do Senhor. (Dt 8:6)
O profeta Aías confrontou Jeroboão, rei de Israel, com estas acusadoras palavras: “Porque me deixaram, e se encurvaram a Astarote, deusa dos sidónios, a Quemós, deus dos moabitas, e a Milcom, deus dos amonitas; e não andaram pelos meus caminhos para fazerem o que parece recto aos meus olhos, e para guardarem os meus estatutos e os meus preceitos, como o fez Davi, seu pai.”[x]
E Paulo escreveu aos romanos uma lista quase completa destas ímpias características: “a sua boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Nos seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante dos seus olhos.” (Rm 3:14–18).
VI. Testemunho falso
Falso testemunho é o mesmo que calúnia porque consta de declaração não fundamentada. E Deus legislou contra o falso testemunho.[xi] No livro de provérbios está escrito o seguinte acerca da pessoa caluniosa: “Malho, e espada, e flecha aguda é o homem que levanta falso testemunho contra o seu próximo.”[xii]
Até os sacerdotes contemporâneos de Jesus, com os outros membros do sinédrio, buscavam testemunhas que fizessem falsas declarações acerca do Senhor para poderem condená-lo à morte. O trecho informa-nos que finalmente apareceram duas que disseram o seguinte: “Este disse: Posso destruir o santuário de Deus e reedificá-lo em três dias.” (Mt 26:59–61)
O mesmo aconteceu com Estêvão, o primeiro mártir da Igreja, depois de Jesus. Visto que os dirigentes da sinagoga não podiam resistir à sabedoria do servo de Deus, aliciaram e subornaram alguns para declararem o seguinte: “Temo-lo ouvido proferir palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus… Este homem não cessa de proferir palavras contra este santo lugar e contra a lei; porque nós o temos ouvido dizer que esse Jesus, o nazareno, há de destruir este lugar e mudar os costumes que Moisés nos transmitiu.” At 6:11–14
VII. Semeadura de contendas
Semear contendas significa promover discussões, controvérsias, debates, discórdias. A primeira discórdia aconteceu no jardim do Édem e resultou na morte do mais fraco, ou mais manso, quando Caim matou Abel. (Gn 4:8) As contendas são causadas pelo ódio existente em pessoas ímpias, sem o devido temor de Deus.
O livro de Provérbios declara o seguinte a este respeito: “O ódio excita contendas; mas o amor cobre todas as transgressões.”[xiii] Acerca dos ímpios está escrito que: “perversidade há no seu coração; todo o tempo maquina o mal; anda semeando contendas.” (Pv 6:14) “O homem iracundo suscita contendas; mas o longânimo apazigua a luta.” (Pv 15:18) “O homem perverso espalha contendas; e o difamador separa amigos íntimos.(Pv 16:28).
Conclusão
A este respeito sigamos o conselho apostólico: “Andemos honestamente, como de dia: não em glutonarias e bebedeiras, não em desonestidades e dissoluções, não em contendas e inveja.”[xiv] “nada façais por contenda ou por vanglória, mas com humildade cada um considere os outros superiores a si mesmo;… Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas.”[xv] “ Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda.”[xvi]
Ler também As Sete Virtudes
[i] Pv 6:16–18[ii] Is 2:11[iii] Sl 34:13[iv] Sl 39:1
[v] Gn 9:6
[vi] Mt 5:21
[vii] Cl 3:25
[viii] Mt 12:34
[ix] Mt 5:27,28
[x] 1 Rs 11:33
[xi] Êx 20:16
[xii] Pv 25:18
[xiii] Pv 10:12
[xiv] Rm 13:13
[xv] Fl 2:3,14
[xvi] 1 Tm 2:8