LIÇÃO 13

O DESPERTAMENTO PENTECOSTAL 

No início do século XX irrompeu um movimento espiritual que tem sido chamado “a terceira força da cristandade”. O século dezanove foi um período de mudanças na política, na ciência e na religião. A cristandade experimentara a sua maior expansão e a fé mais difundida. Porém, o espírito racionalista havia-se instalado e alguns pensadores sobrevalorizaram a interpretação racional das Escrituras. Eles desacreditavam o sobrenatural ensinando que Jesus era um mero homem. Em 1835 apareceu um livro de grande circulação, “A Vida de Jesus”, de Frederico Strauss, tentando demonstrar que os evangelhos não passavam de mitos e lendas.

Isto provocou um novo interesse pela investigação e muitos teólogos se levantaram em defesa da verdade bíblica. O grande movimento originado pelos irmãos Wesley apelava para uma segunda experiência cristã após a salvação, a que chamavam inteira santificação. Constava do ensino de que a segunda experiência dotaria o crente do revestimento de poder. Estavam ansiando experimentar o mesmo que os primitivos cristãos de acordo com o relato dos Actos dos Apóstolos.

Os começos (1900-1901)

Um grupo de 35 estudantes, na Escola Bíblica Betel, em Topeka, no Estado do Kansas, foram incumbidos pelo seu professor de buscar nas Escrituras a evidência do baptismo no Espírito Santo. O seu estudo levou-os a concluir que a evidência da dita experiência é o falar em línguas conforme o relato no livro de Actos dos Apóstolos. Os alunos fizeram uma vigília de ano novo e a experiência veio conforme esperada. A primeira a ser baptizada no Espírito Santo, Miss Agnes Ozman, conta-nos como foi.

“Na vigília tivemos um culto abençoado, orando para que a bênção de Deus caísse sobre nós assim como o ano novo chegava. Durante o primeiro dia de 1901 a presença do Senhor estava connosco nitidamente. Eram quase onze horas, pedi que alguém pusesse as mãos sobre mim para eu receber o dom do Espírito Santo. Quando as mãos foram postas sobre a minha cabeça o Espírito veio sobre mim e comecei a falar em línguas, glorificando a Deus”.

Quando o professor, Charles Parham, ouviu o relato dos acontecimentos recebeu a mesma experiência. A partir daí aconteceu o mesmo com outros e o movimento pentecostal havia desabrochado. Este mesmo professor iniciou uma Escola Bíblica em Houston, no Texas. William Seymour, um pastor negro da Igreja de Santidade, em Los Angeles, foi assistir e ficou contagiado pelo ambiente.

Então, Seymour foi convidado pelo pastor duma igreja de santidade na Califórnia a fim de ali pregar. Quando voltou a Los Angeles o seu ensino acerca das línguas, como evidência do baptismo no Espírito Santo, foi rejeitado. Seymour teve de sair e procurar outro lugar para pregar o evangelho. Encontrou uma velha igreja metodista na Rua Azusa e aí continuou a pregação pentecostal e, em Abril de 1906, um grupo de crentes era baptizado no Espírito Santo falando novas línguas. Os cultos eram marcados por cânticos espirituais, manifestação dos dons, curas milagrosas e o baptismo no Espírito Santo.

A notícia do reavivamento espalhou-se de tal forma em toda a nação e até exterior, que de todas as partes, muitos visitavam a Missão da Rua Azusa para observar os factos. É considerado significante o facto de que pretos e brancos estivessem a adorar juntos à medida que o Espírito Santo enchia os seus corações de amor uns pelos outros.

Como resultado da Missão Azusa o movimento do Espírito espalhou-se pelas Américas, enquanto noutras localidades da Europa estavam recebendo a mesma experiência pentecostal. Uma das igrejas de santidade que aceitou o avivamento pentecostal foi a Igreja de Deus, em Cleveland, que havia sido iniciada em 1884. Outra foi a Igreja de Deus em Cristo, em Memphis. E muitas outras igrejas, por toda a parte, aderiram ao despertamento. A este mover do Espírito Santo em todos os grupos pentecostais passou a chamar-se “Movimento Pentecostal”.

A partir de Azusa formaram-se várias igrejas independentes, cujos ministros realizaram o seu primeiro Concílio Geral de 2 a 14 de Abril de 1914, em Hot Springs. Participaram nele cerca de 300 delegados procedentes de todos os grupos pentecostais independentes. Ali foi redigida uma declaração de princípios de igualdade, unidade e cooperação, com reconhecimento da soberania local. Aqui surgiram as Assembleias de Deus na América do Norte, que em 1917 contava já com 517 pastores no interior e 56 missionários no exterior, não deixando de crescer o número de ministros. A sua forma de governo é congregacional, cujo lema é autonomia, comunhão e cooperação.

A sua primeira acção conjunta foi editar um jornal e uma revista que servissem a todos como factor de união. Eram eles o “Word and Witness” mensal, e “The Cristian Evangel” semanal. Estas duas publicações foram, mais tarde, aglutinadas numa só que recebeu o nome “The Pentecostal Evangel”, editado presentemente.

A educação não foi descurada. Em 1922 foi iniciado um Instituto Bíblico, nas classes da Escola Dominical, para preparação de ministros, e em 1924 começou a edificação do primeiro edifício para o “Central Bible Institute”, cujos alunos são recebidos por todas as igrejas nos Estados Unidos e muitos vão para o estrangeiro como missionários. Outros institutos e escolas bíblicas foram aparecendo por toda a parte a fim de satisfazer as necessidades locais. (Para mais, ver “História da Igreja Cristã” por Jesse Lyman Hurlbut, cap. 27).

O Movimento no Brasil

Várias tentativas foram realizadas para evangelizar o Brasil. Primeiro apareceram os huguenotes que deixaram ali os seus primeiros mártires (1555-1558). Os holandeses e os morávios também ali deixaram a semente do evangelho. Porém, coube a Robert Kalley, médico escocês, o privilégio de iniciar o trabalho com algumas famílias da Ilha da Madeira, que o acompanharam na fuga à perseguição que lhes fora movida pelos adversários da reforma. O médico missionário fundou assim a Igreja Fluminense, em 1885, no Rio de Janeiro.

Os pastores suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren, que haviam aceitado a experiência pentecostal na América, sentiram a chamada para rumar até ao Pará, no Brasil. A 19 de Novembro de 1910 chegaram a Belém, e dirigiram-se à Igreja Baptista, a cuja denominação pertenciam, e cujo responsável local era o português José Plácido da Costa. Após aprenderem o português iniciaram o seu trabalho de evangelismo e ensino com o zelo pentecostal.

Ali, a primeira pessoa a receber o baptismo no Espírito Santo, tal como no princípio, foi Celina Albuquerque, a 8 de Junho de 1911. Depois, a acção do Espírito atingiu muita gente que se viu envolvida no movimento pentecostal. Não tardou a serem expulsos do templo e tiveram de procurar onde adorar e proclamar o evangelho total. Decorridos dez dias foi iniciada, com dezoito crentes, uma nova igreja no Brasil, a qual foi a primeira a adoptar o nome de Assembleia de Deus. Esse grupo cresceu até ao ponto de tornar-se a maior igreja missionária no Brasil.