LIÇÃO 15

EXCESSOS DA REFORMA  

A Reforma, com a sua liberdade de expressão, também produziu movimentos espirituais, ou místicos, à margem de qualquer igreja instituída. Sujeitos a revelações desprezaram a orientação da Bíblia e dos ministérios que Cristo entregou à sua Igreja. Refira-se, como exemplo, três dos mais destacados.

1. Os Quakers apareceram pela primeira vez na Inglaterra. Certa vez, George Fox (1624-1691) foi desafiado, em 1643, juntamente com outros amigos puritanos, para uma sessão de bebida na condição de o que desistisse primeiro pagaria a despesa. Fox ficou desiludido e deixou a igreja. A partir daí começou a sua busca da verdade espiritual, a qual parece ter atingido passados três anos. O Cristianismo passou a ser para ele uma experiência mística, uma forma de viver orientada por revelação do Espírito Santo.

Começou a sua pregação e em 1652 podia reunir um grupo de seguidores, que não simpatizavam com os dogmas da Igreja oficial, para ouvirem os seus ensinamentos. No princípio chamavam-se a si mesmos “Filhos da Luz” vindo mais tarde a chamar-se “Sociedade dos Amigos”. O tratamento de Quakers terá aparecido pelo facto de tremerem em momentos de êxtase espiritual.

Fox rejeitava qualquer forma de igreja, ou de organização eclesiástica, assim como quaisquer rituais. Ensinava que as mulheres tinham os mesmos direitos concernente aos dons do Espírito e governo da Sociedade. Em virtude da perseguição anglicana muitos procuraram refúgio na América. Mas ali também sofreram perseguição por causa das suas doutrinas. Encontraram, todavia, segurança em Rhode Island onde havia liberdade para todas as formas de culto.

Robert Barclay (1648-1690) foi o teólogo da Sociedade dos Amigos. A sua obra “Defesa dos Quakers” revela a essência da sua teologia. O Espírito era o único Revelador de Deus e a Fonte de luz que ilumina o homem. A Bíblia não passava duma regra acessória às revelações do Espírito, por isso colocada ao mesmo nível da inspiração de qualquer dos Amigos. Sustentavam que as revelações a um “Amigo” não contradiziam a Bíblia nem a razão. Com esta luz interior prescindiam dos ministérios dados à Igreja. Como os sacramentos do baptismo e Santa Ceia eram espirituais não precisavam de símbolos nem cerimónias. Ensinavam a não tomar parte na guerra e a escravidão era combatida entre eles. Os juramentos em tribunais foram proibidos e as honras humanas rejeitadas. A disciplina era rígida ao ponto de excluir quem se casasse com fora da Sociedade.

Um dos dirigentes, William Penn (1644-1718), recebeu de Carlos II uma faixa de terra onde viria a fundar a primeira cidade quaker “Filadélfia”. Este território tornou-se o estado da Pennsylvânia. Então convidou todas as seitas perseguidas na Europa a refugiarem-se ali. Eles têm dedicado a sua missão especialmente ao serviço social e à educação. Todos os nascidos de pais crentes são considerados membros com direitos iguais aos que requerem ingresso na Sociedade.

2. Os Unitários, que são a descendência dos antigos arianos do quarto século, apareceram inicialmente, nos Estados Unidos, como uma escola de pensamento dentro dalgumas igrejas. A primeira igreja a aceitar as suas ideias era Protestante Episcopal, a qual em 1785 deixou de reconhecer a doutrina da trindade. Eles consideram a Bíblia como uma valiosa colecção literária sem autoridade alguma sobre os crentes. Crêem que Deus é uno e não uma trindade. Dão muita ênfase à humanidade de Cristo, enquanto negam a sua divindade e consideram o Espírito Santo uma influência divina. Mais de cento e vinte igrejas congregacionais americanas se tornaram unitárias, inclusive a fundada pelos peregrinos do Mayflower em Plymouth.

3. A Ciência Cristã apareceu como movimento por arte de Mary Baker Eddy em 1867. Ela havia sido muito enferma desde a mocidade, motivo pelo qual chegou a usar morfina. Por fim recorreu a um certo curandeiro, Quimby, que afirmava ser a enfermidade um erro relacionado com o estado mental. O simples facto de conhecer a verdade podia libertá-la. Depois de experimentar a cura formulou as suas ideias e dedicou-se a divulgá-las.

Passados oito anos, Mary publicou o seu livro “Fé e Ciência” com uma chave das Escrituras, o qual se tornou o manual de doutrina, havendo atingido 382 edições. Ela seguiu a mesma ideia de que a doença era um erro mental que podia ser corrigido sem médicos nem medicamentos. Bastaria aceitar a ciência que Jesus empregou para os seus pacientes e que ela havia descoberto.

Em 1879 fundou oficialmente a Igreja Científica de Cristo com sede em Boston. Para evitar desvios doutrinários Mary tomou algumas medidas acautelares. Declarou que a vinda de Cristo havia acontecido na inspiração que recebera para escrever o seu livro. Os sermões foram substituídos pela leitura alternada da Bíblia a par com os comentários do livro “a fim de que não se misturem erros humanos com a doutrina divinamente inspirada”. Para o efeito há um só leitor que dirige o culto e é alternado com outros. As suas igrejas recebem a doutrina através de conferencistas enviados pela Igreja-Mãe. Ninguém sabe o seu número de membros, pois o manual proíbe a contagem do povo e a divulgação de dados estatísticos.

Apesar da promessa das suas doutrinas Mary passou os seus últimos anos cheios de dor e inquietação. Para aliviar as dores atrozes em seu corpo teve de voltar às frequentes doses de morfina, vindo a morrer em 1910.

Muitos outros apareceram cuja consideração não cabe nestes apontamentos.