LIÇÃO 5

A REFORMA RADICAL

Devido à liberdade existente na Suíça surgiu no norte um movimento mais radical que exigia maiores reformas. A insistência de Zwínglio na leitura da Bíblia, como fundamento da acção dos pregadores, encorajou a formação de grupos de estudos bíblicos. Entre eles estava Conrad Grebel, (1498-1526) que era membro duma família nobre e recebeu excelente educação nas universidades de Viena e Paris. Após a sua conversão, em 1522, trabalhou ao lado de Zwínglio durante três anos. Porém, devido a discordância separaram-se.

Estes grupos de estudos bíblicos, que a princípio se chamavam “irmãos”, propuseram que se fundasse uma congregação de verdadeiros crentes, a contrastar com aqueles que se diziam cristãos por haverem nascido num país cristão e terem sido baptizados quando crianças. Ao verificarem que Zwínglio não seguia por esse caminho, eles mesmos o fizeram. Em 21 de Janeiro de 1525, Grebel baptizou o ex-sacerdote Blaurock que, por sua vez, baptizou Grebel e outros irmãos. Aqueles primeiros baptismos foram praticados por aspersão, só mais tarde, em seus esforços por serem bíblicos, passaram a baptizar por imersão aqueles que antes dessem testemunho público da sua fé. Também passaram a defender a ideia da separação entre a Igreja e o Estado.

Esta prática de rebaptizar não era considerada por eles um novo baptismo em virtude de considerarem não ter havido algum antes. Contudo, esta prática deu-lhes o nome de “anabaptistas” ou  rebaptizadores. Entre eles os pobres e os ignorantes eram tão importantes quanto os ricos e os sábios; e recrutaram muita gente entre as classes trabalhadoras. Este novo movimento atraiu logo a oposição dos católicos e dos reformadores, que começaram a  persegui-los por serem considerados subversivos. Os católicos começaram a condenar os anabaptistas à pena capital em 1525. No ano seguinte foi decretada a pena de morte pelo Conselho de Zurique a quem baptizasse ou fosse baptizado de novo.

Em pouco tempo os demais territórios Suíços protestantes seguiram o exemplo. O número de mártires foi provavelmente maior do que durante os primeiros três séculos da Igreja. Alguns morriam afogados, outros eram queimados vivos. Não faltaram as torturas e até foram esquartejados vivos. Balthasar Hubmaier (1481-1528), doutor em teologia pela Universidade de Ingolstadt, que havia sido aluno de John Eck, o adversário de Lutero, foi obrigado, entre outros, a refugiar-se na Morávia para fugir às perseguições Zwinglianas. Por ordem do Imperador, em 1528, foi queimado numa estaca e sua esposa foi lançada ao Danúbio onde morreu afogada. Porém, o mais notável é que quanto maior perseguição havia maior crescimento existia.

Entre os anabaptistas havia ainda alguns mais radicais, os xiliastas, que esperavam a vinda do prometido milénio em 1533, cuja sede seria em Strasbourg. Melchior Hoffman foi um desses visionários, mais tarde substituído por Jan Matthiszoon, o qual se proclamou Enoque e decidiu que seria Munster, e não Strasbourg, a Nova Jerusalém, mudando-se então para lá com a sua mulher Divara, uma ex-freira. A comunhão de bens e a doentia esperança da proximidade da vinda do milénio levaram-nos à desordem. Finalmente, Hoffman foi encarcerado.

Apareceram então dois líderes, João Matthys e João de Leiden que, crendo na chegada do Reino, tomaram posse da cidade expulsando o seu bispo. Este reuniu um exército e assaltou Munster. No combate morreu Matthys e Leiden tomou a liderança nomeando-se rei da Nova Jerusalém. Talvez cansados pelos excessos, pelas lutas intermináveis e pela fome, alguns habitantes abriram as portas da cidade ao exército do bispo. O novo rei foi preso e exibido, com os seus assessores, em jaulas, por toda a região, após o que foram torturados e executados.

O repúdio das ideias reformadas e o fanático incidente de Munster determinou a condenação do movimento. Porém, muitos refugiaram-se na Holanda, onde existia um movimento semelhante. Ali, a destruição do movimento foi evitada pela intervenção sábia de Menno Simons (1496-1561). Este abandonara o sacerdócio romano em 1536, aceitando as ideias anabaptistas. Assumiu então a liderança dos “irmãos”, cujo nome assumiram para evitar o estigma de “anabaptistas”, os quais, após a sua morte, receberam o nome de “Menonitas”, conseguindo a sua liberdade religiosa em 1676. Os seus conceitos de igrejas livres, separação do Estado, autoridade da Bíblia, interpretação pessoal das Escrituras, e baptismo por imersão, influenciaram muito o aparecimento dos puritanos separatistas, dos baptistas, e dos quaqres.