A REFORMA NA FRANÇA
Dois grandes movimentos reformadores apareceram na França cerca do ano 1170. Os valdenses, que eram seguidores de Pedro Valdo, comerciante de Lyon, o qual distribuía, lia e explicava as Escrituras. Ele fundou uma ordem de evangelistas chamados “os pobres de Lyon” a quem enviou pelo centro e sul da França proclamando as Escrituras. Cruelmente perseguidos, refugiaram-se na Itália onde presentemente fazem parte do pequeno grupo de protestantes.
Os albigenses, ou cátaros, foram também proeminentes no sul da França, na mesma época. Opunham-se fortemente à tradição, à doutrina do purgatório, à adoração das imagens, e às pretensões dos sacerdotes. Todavia, rejeitavam o Antigo Testamento. O papa Inocêncio III, em 1208, mobilizou contra eles uma cruzada e quase toda a população, entre católicos e protestantes, foi massacrada e pereceu. Porém, algumas sementes de reforma terão prevalecido entre os franceses.
Provavelmente influenciado pelas leituras de Lutero, Jacques Lefévre (1455-1536), escrevia e pregava a doutrina da justificação pela fé, o qual concluiu, em 1523, a tradução do Novo Testamento para o francês. A classe média, comerciantes e proprietários rurais, descobriram na Bíblia a esperança duma Igreja Reformada e aceitavam as novas doutrinas.
Embora a Universidade de Sorbone, em 1521, já tivesse condenado os escritos de Lutero, não evitou o avanço das doutrinas reformadas. Francisco I, rei da França, preocupado com o progresso protestante resolveu empregar a força a fim de impedir a disseminação da “heresia”. Em 1525 um grupo existente em Meaux foi disperso e muitos tiveram que abandonar a França. Faltou, na época, uma liderança capaz de enfrentar os opositores.
Os valdenses restantes do sul da França, em 1532, aceitaram as doutrinas de Calvino, o qual treinara em Genebra mais de 155 pastores e lhos enviara. Uma estimativa dá conta que cerca de 1547 um sexto da população francesa era protestante. O respeitável almirante Coligny unira-se aos protestantes e tornou-se o seu líder político. Ele era da opinião que existiriam, cerca do ano 1561, 2150 congregações protestantes em França. Só a igreja de Ruão contava, na Primavera de 1560, cerca de dez mil crentes, quatro pastores e vinte e sete anciãos. Em Agosto de 1560 uma congregação de sete mil pessoas reuniu-se na praça de Ruão onde escutou um pregador cercado por quinhentos homens armados com arcabuzes.
Os crentes, bem organizados e poderosos, tornaram-se um reino dentro do reino da França. Em vista desta situação a política governamental mudou e resultou numa perseguição constante, feroz e sangrenta entre 1538 e 1559. Neste ano realizou-se o primeiro Sínodo em Paris, que adoptou “A Confissão Galicana de Fé” e foi o marco da organização nacional. A partir de 1560 os protestantes passaram a ser conhecidos como huguenotes, cuja origem é desconhecida. Entre 1562 e 1598 houve oito guerras religiosas e massacres. Mas, o mais terrível aconteceu na noite de S. Bartolomeu, aos 24 de Agosto de 1572. Após uma série de intrigas políticas foi montado um assalto aos huguenotes de Paris. Coligny foi surpreendido no seu quarto onde, depois de ferido, foi jogado à rua pela janela, pisoteado e morto. Mais de duas mil pessoas que foram mortas, nas noites de 23 e 24 de Agosto, em Paris. No palácio real do Louvre o sangue era tanto que corria pelas escadarias e ruas da cidade. Na totalidade, foram chacinadas entre 10 a 20 mil e os seus bens confiscados.
A grandemente implicada naquela carnificina foi a católica Catarina de Médici, que tinha muita influência sobre o rei Carlos IX. O papa Gregório XII, ao ser informado de que o protestantismo havia sido extirpado em França, mandou cunhar uma medalha comemorativa e ordenou a celebração dum Te Deum em acções de graças todos os anos.
Henrique de Navarra, líder dos huguenotes, em 1593, passou para o lado católico e reinou sob o título de Henrique IV. Então, em 1598, promulgou o Édito de Nantes, (Ver Documento) pelo qual garantiu liberdade religiosa aos huguenotes, acabando estes por formar um estado dentro do Estado francês. Foram autorizados a manter um exército em várias das 200 cidades sob seu controle. Esta situação acabou por ser revogada em 1685 por Luís XIV, que desejava uma só fé, um só estado e um só rei.
Esta medida obrigou os protestantes a emigrar para várias localidades da Europa, África do Sul e Estados Unidos, e a França sofreu um sério abalo económico com a perda de competentes profissionais liberais e artesãos. A partir desta ocasião os reformados não têm exercido qualquer influência na França, sendo os protestantes, presentemente, uma pequena minoria sem expressão.