A REFORMA DOS MORÁVIOS
As ideias da reforma chegaram muito cedo à Morávia, mas não conseguiram o mesmo progresso como nos outros países já mencionados. João Huss, que era leitor de Wycliff, pregava ali as suas doutrinas, mas foi queimado na cidade de Praga em 1415. Tanto a sua pregação quanto a condenação deixaram influências reformistas na região.
Mais tarde, começaram a chegar alguns refugiados puritanos, os quais encontraram a protecção do conde Zinzendorf. Este nobre, nascido em 1700, a partir dos dez anos recebeu a educação dum mestre pietista luterano. Depois seguiu para Wittenberg a fim de estudar direito. Ali, enquanto visitava uma galeria de arte viu um quadro (Ecce Homo) onde estava escrito “Fiz tudo por ti, que fazes tu por mim?” Zinzendorf concluiu que jamais seria feliz se não respondesse satisfatoriamente àquela questão.
Após a chegada dos primeiros refugiados em 1722, teve oportunidade de realizar os seus ideais. O conde convidou-os a recolherem-se na sua propriedade, a qual veio a chamar-se “Herrnhut” que significa “o vigia do Senhor”. Apesar da oposição dos seus familiares a generosidade do conde tornou-se notícia e o movimento crescia. Cinco anos depois chegava o ponto alto do movimento. Num célebre culto em 13 de Agosto aconteceu um despertamento semelhante ao de outras localidades na História da Igreja. Numa certa noite o Espírito Santo desceu sobre a comunidade trazendo um renovado interesse pelas missões mundiais. Ao mesmo tempo as pequenas diferenças doutrinárias deixaram de ser motivo para discussões, experimentando deste modo uma unidade fortalecida pelo Espírito Santo. Sob a sua liderança foi realizada, por mais de cem anos, uma vigília constante de oração.
Assim, cresceu nos morávios a paixão de cumprir a comissão do Senhor e levar o evangelho até aos confins da terra. A sua contribuição mais importante para o protestantismo foi o ensino de que todo o cristão é missionário. Como este movimento havia surgido entre artesãos, os missionários leigos podiam partir para outras terras dispondo somente do seu trabalho profissional para sustento. Chegaram a fundar trabalho missionário nas Ilhas Virgens (1732), Groenlândia (1733), América do Norte (1734), Lapónia e América do Sul (1735), África do Sul (1736) e Labrador (1771).
Zinzendorf gastou trinta e três anos da sua vida como supervisor duma rede mundial de missionários que aceitavam a sua liderança. A forte motivação dos missionários era o sacrifício de Cristo oferecido pelo mundo. E o seu método evangelizador era o testemunho da fé por palavras e vida exemplar, deixando para mais tarde o ensino doutrinário.
Início das Missões Modernas
Inspirado nos morávios, coube ao inglês Guilherme Carey (1761-1834) ser o fundador e inspirador das missões modernas. Carey nasceu num lar pobre, seu pai era tecelão, e ele foi sapateiro até aos 28 anos. Porém, Carey era um estudioso nato e desenvolveu a sua própria educação. Aos 24 anos foi convidado para assumir o pastorado numa igreja baptista. Inspirado na leitura das “Viagens do Capitão Cook” adquiriu uma perspectiva bíblica sobre missões. Quando Carey apresentou a suas ideias numa assembleia de ministros ouviu de um deles: “Jovem, sente-se. Quando Deus quiser converter os pagãos Ele o fará sem a sua ajuda ou a minha”. Mas o teimoso Carey recusou submeter-se àquela ordem.
Em 1792 Carey publicou um livro de 87 páginas, cujo título “Uma Inquirição sobre a Responsabilidade dos Cristãos em Usarem Meios para a Conversão dos Pagãos”, é uma síntese clara do seu conteúdo. Esta obra provocou um impacto sobre missões semelhante às 95 teses de Lutero. Mais tarde, noutra assembleia de ministros baptistas, desafiou os assistentes através de Isaías 54.2,3 e uma nobre sentença: “Espere grandes coisas de Deus; tente grandes coisas para Deus”. A partir daqui decidiram organizar uma Junta de Missões a qual recebeu o nome de “Sociedade Baptista de Missões” e ele próprio ofereceu-se para ir à Índia, com outros companheiros, chegando ao seu destino a 19 de Novembro de 1793. Passados dois anos era estabelecida uma igreja na Índia. Além de prolífico escritor e tradutor, o seu maior empreendimento foi a fundação dum Colégio, em 1819, para treinamento dos futuros obreiros nativos. Foi ainda convidado a leccionar Línguas Orientais no colégio em Calcutá. Morreu aos 73 anos deixando as suas marcas na Índia.