Génesis 6.2
“Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram”.
Problema
Quem são os filhos de Deus e os filhos dos homens? Donde provêm e o que os distingue?
Contexto bíblico
No capítulo quatro encontra-se o relato do nascimento de Abel e Caim, os quais se distinguem pela maneira de cultuar a Deus e do seu relacionamento fraternal. Abel está em sintonia com Deus e a sua oferta é de acordo com o sentimento divino, enquanto Caim, embora queira cultuar, não consegue a mesma sintonia e não entende o coração de Deus. Por este motivo a sua oferta não foi aceite porque estava errada.
Isto provocou em Caim aversão ao seu irmão, por ser o preferido de Deus, e matou‑o. Após este trágico incidente, afastou-se ainda mais de Deus e foi juntar-se a um grupo rebelde, que também tinha desprezado a companhia do Senhor. Isso é atestado pela sua violência e pelo receio de vingança manifestado por Caim.(cf. Gn 4.15–24).
Entretanto, Deus deu outro filho a Adão e Eva em lugar de Abel, a quem chamaram Sete. Note-se que, aquando do nascimento de Enos, a geração de Sete começou a invocar o nome do Senhor, conforme o verso vinte e seis. Este facto, marcado pelo interesse espiritual, manifesta esta geração de Sete como filhos de Deus, enquanto a geração de Caim, marcada pelo interesse material, é conotada como os filhos do homens.
“Naqueles dias estavam os nefilins na terra, e também depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos. Esses nefilins eram os valentes, os homens de renome, que houve na antiguidade” (Gn 6:4). Estes nefilins, de acordo com o nome, eram lenhadores, cortadores e rachadores de madeira, portanto, gente forte, agressiva e temível.
Então, veio a apostasia da linhagem de Sete, os filhos de Deus, através da sua mistura com a linhagem de Caim, os filhos dos homens, e a violência agravou-se. Deus não gostou do estado dessa sociedade e determinou acabar com aquela raça humana para recomeçar uma nova geração a partir do seu amigo Noé, descendente de Sete, capacitado para ouvir e decifrar a mensagem divina (Gn 6.9).
Foi aquela apostasia, provocada pela mistura das famílias de Deus e dos homens, que determinou o destino da humanidade. Deus resolveu destruí-los através de um dilúvio e recomeçar uma nova família com a descendência de Noé. Ele era temente, justo e piedoso, cujas características serviam para formar uma sociedade compatível com o carácter de Deus.
“Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra. Então disse Deus a Noé: O fim de toda carne é chegado perante mim porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os destruirei juntamente com a terra. Faze para ti uma arca de madeira de gofer…” (Gn 6:12,13).
Solução bíblica
Os que servem a Deus são chamados filhos de Deus, os que O não servem são chamados filhos dos homens. “Ora, chegado o dia em que os filhos de Deus foram apresentar-se perante o Senhor, foi também Satanás entre eles” (Jó 1.6). Jesus chama-lhes filhos do maligno: “O campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno; o inimigo que o semeou é o Diabo” (Mt 13:38,39).
Os pacificadores são chamados filhos de Deus, (Mt 5.9) mas os enganadores e perversos são filhos do Diabo (At 13.10). Os que amam são chamados filhos do altíssimo, conforme Lc 6.35: “Amai, porém, a vossos inimigos, fazei bem e emprestai, nunca desanimando, e grande será a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo.” Mas os que odeiam são filhos das trevas, de acordo com 1 Jo 2.11: “Mas aquele que odeia a seu irmão está nas trevas e anda nas trevas, e não sabe para onde vai porque as trevas lhe cegaram os olhos.”
Jesus também referiu que os filhos deste mundo são mais sagazes do que os filhos da luz (Lc 16.8). Falando com os fariseus, Jesus respondeu-lhes: Se Deus fosse o vosso Pai, vós me amaríeis, porque eu saí e vim de Deus (Jo 8.42). E, em João 8:44 diz: Vós tendes por pai ao Diabo e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio e nunca se firmou na verdade porque nele não há verdade; quando ele profere mentira fala do que lhe é próprio porque é mentiroso e pai da mentira.”
Paulo confirma em Romanos 8:14 que “todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.” Então, os que não querem ser guiados pelo Espírito de Deus são filhos da maldição. O apóstolo requer que os filhos de Deus sejam imitadores de Deus como filhos amados (Ef 5.1). E continua: “Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, não sejais participantes com eles; pois outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz.” (Ef 5:5–8).
Pedro informa-nos que “tais homens têm prazer em deleites à luz do dia, eles são nódoas e máculas, deleitando-se em suas dissimulações quando se banqueteiam convosco, tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecar; engodando as almas inconstantes, tendo um coração exercitado na ganância, filhos de maldição” (2 Pd 2.13,14).
Também João fornece a sua opinião a este respeito: “Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do Diabo: quem não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão” (1 Jo 3:10).
Conclusão
Pelo exposto concluímos haver duas grandes famílias na terra: a família de Deus, que se manifesta através do amor, da justiça e da paz. E a família do Diabo, que se distingue através do ódio, da injustiça e do conflito. Como ensina Paulo: “porque o reino de Deus não consiste no comer e no beber, mas na justiça, na paz, e na alegria em Espírito Santo” (Rm 14:17).