Actos 28:20,28
“Por esta causa, pois, vos convidei para vos ver e falar, porque pela esperança de Israel estou preso com esta cadeia.”
Questão
Qual é essa esperança de Israel pela qual Paulo está preso, e por que motivo quer ele falar com os anciãos?
Contexto bíblico
A primeira menção feita à esperança de Israel encontra-se em Génesis, capítulo três, versículo quinze, que diz: “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” E no final da Bíblia encontramos a última referência ao mesmo assunto: “E adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.” (Ap 13:8). A primeira referência é a previsão da luta de Satanás, ao longo da História da Humanidade, para contrariar o cumprimento do plano divino. A última é a narrativa do plano divino concretizado.
Entre a História Bíblica, há uma promessa feita ao amigo de Deus, Abrão, respeitante à sua descendência como herdeira daquela terra e uma bênção para todas as famílias do mundo: “Apareceu, porém, o Senhor a Abrão, e disse: à tua semente darei esta terra. Abrão, pois, edificou ali um altar ao Senhor que lhe aparecera.” (Gn 12:7). E no versículo três diz: “e em ti serão benditas todas as famílias da terra.” Depois Deus faz um pacto com ele comprometendo-se desta maneira: “Estabelecerei o meu pacto contigo e com a tua descendência depois de ti em suas gerações, como pacto perpétuo, para te ser por Deus a ti e à tua descendência depois de ti. Dar-te-ei a ti e à tua descendência depois de ti a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em perpétua possessão e serei o seu Deus.” (Gn 17:7,8).
Pelo facto de Abraão e Sara serem já velhos duvidaram daquela promessa e interrogaram-se rindo da mesma: “Ao que se prostrou Abraão com o rosto em terra, e riu-se, e disse no seu coração: A um homem de cem anos há de nascer um filho? Dará Sara à luz, que tem noventa anos?” (Gn 17:17). Aconteceu, porém, que Sara recebeu milagrosamente um filho a quem chamaram Isaque. (cf. Gn 21:2,3). Este seria, por conseguinte, a esperança de Abraão ver o cumprimento da promessa. Quando Isaque já era adolescente, Abrão foi convidado a sacrificá-lo no monte Moriá, ao que ele obedeceu sem questionar (cf. Gn 22.2). Mas, quando parecia que a esperança estaria desaparecendo, eis que o Senhor supriu um cordeiro para substituir Isaque, e aquele foi sacrificado em lugar do filho. Esta substituição pelo cordeiro suprido é uma figura do Cordeiro de Deus que viria para substituir a humanidade no sacrifício por causa do pecado. Jesus, sem pecado, tomou o nosso pecado e levou‑o até ao Calvário, na terra de Moriá, e ali foi sacrificado em nosso lugar.
Quando Jesus nasceu, seus pais foram ao templo adorar: “Ora, havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão; e este homem, justo e temente a Deus, esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. E fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que ele não morreria antes de ver o Cristo do Senhor.” (Lc 2:25,26). E o velho Simeão, que estava ali, ao vê-lo, reconheceu o cumprimento da esperança de Israel e louvou a Deus dizendo: “Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra, pois os meus olhos já viram a tua salvação” (Lc 2:29,30).
Enquanto João estava baptizando no rio Jordão, apareceu Jesus e ele exclamou para todos: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.” (Jo 1:29). A esperança de Israel tinha aparecido: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigénito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3:16). Durante o seu ministério, Jesus percorria todos os lugares, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando todas as enfermidades entre o povo, e dizia: “Também vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente e reclinar-se-ão à mesa de Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos céus” (Mt 8:11). E Tiago, seu irmão, dizia: “Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os pobres do mundo para serem ricos em fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?” (Tg 2:5).
O Senhor tinha confirmado a Moisés que levantaria um profeta semelhante a ele, e que diria somente o que tivesse ouvido de Deus, ao qual ouviriam atentamente: “Do meio de seus irmãos lhes suscitarei um profeta semelhante a ti; e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.” (Dt 18:18). Enquanto Jesus estava ministrando disse acerca deste assunto: “Porque eu não falei por mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, esse me deu mandamento quanto ao que dizer e como falar.” (Jo 12:49). E disse mais: “Já não vos chamo servos porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos dei a conhecer.” (Jo 15:15). Quando Jesus ressuscitou o filho duma viúva de Naim, “O temor se apoderou de todos e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta se levantou entre nós e Deus visitou o seu povo.” (Lc 7:16).
O apóstolo Paulo menciona na sua carta aos colossenses que a pregação do evangelho é a esperança proclamada a todas as pessoas debaixo do céu: “se é que permaneceis na fé, fundados e firmes, não vos deixando apartar da esperança do evangelho que ouvistes, e que foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, fui constituído ministro.” (Cl 1:23). E identifica Jesus com a nossa esperança: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, segundo o mandado de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, esperança nossa.” (1 Tm 1:1). E continua: “aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tt 2:13). “retenhamos inabalável a confissão da nossa esperança porque fiel é aquele que fez a promessa” (Hb 10:23).
Paulo, em sua defesa, referiu-se ao cumprimento da promessa de Deus, nestes termos: “E nós vos anunciamos as boas novas da promessa feita aos pais, a qual Deus nos tem cumprido, a nós, filhos deles, levantando a Jesus, como também está escrito no salmo segundo: Tu és meu Filho, hoje te gerei.” (At 13:32,33). E continua: “E agora estou aqui para ser julgado por causa da esperança da promessa feita por Deus a nossos pais, a qual as nossas doze tribos, servindo a Deus fervorosamente noite e dia, esperam alcançar; é por causa desta esperança, ó rei, que eu sou acusado pelos judeus.” (At 26:6).
Os apóstolos Pedro e João referem-se também a esta esperança na seguinte forma: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1 Pd 1:3). “E todo o que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro.” (1 Jo 3:3).
Conclusão
Então, a esperança de Israel, pela qual Paulo estava preso, era o cumprimento da promessa de Deus feita a Abraão, Isaque e Jacó, e renovada constantemente através dos profetas. Era a promessa da semente da mulher, que viria trazendo a bênção de Deus para toda a humanidade. Essa semente da mulher é Jesus, nascido da virgem Maria por acção milagrosa do Espírito Santo. A sua proclamação foi a boa nova da esperança para todos, a sua vida foi exemplo para todos, e a sua morte foi em substituição de todos. Quem crer nele não é condenado porque ele veio para salvar o mundo da condenação. Além disso, Ele continua a ser a nossa esperança porque ressuscitou dos mortos, ascendeu ao céu e voltará para cumprir a esperança de Israel.
O apóstolo queria falar com os anciãos para esclarecê-los acerca da sua própria esperança, que era a vinda do messias e com ele o reino de Deus. Era por este motivo que Paulo estava preso, e foi por este motivo que, segundo a tradição, foi sacrificado, porque a sua mensagem foi rejeitada. Contudo, Israel continua esperando o messias, que voltará para instaurar o seu reino eterno.
Encontramos a visão profética desse cumprimento no livro de Apocalipse como segue: “E cantavam um cântico novo, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir os seus selos porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo e língua, e povo e nação; e para o nosso Deus os fizeste reino e sacerdotes e eles reinarão sobre a terra.” (Ap 5:9,10). “E tocou o sétimo anjo a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: O reino do mundo passou a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos.” (Ap 11:15).