A expiação no Antigo Testamento
O sentido exacto de expiação é o de fazer algo que reconcilie duas partes em litígio. Podemos observar uma ilustração na construção da Arca de Noé. Deus ordenou que a betumasse por dentro e por fora com betume (cf. Gn. 6.14). Os dois vocábulos hebraicos existentes para betumar têm a raiz (kâfar) que mais adiante é usada para “expiar:” Assim como a arca foi coberta com betume para salvação das vidas, também o pecado devia ser coberto com sangue para salvação das vidas.
Uma vez que o homem entrou em litígio com Deus pela desobediência, havia necessidade de oferecer a Deus algo que restaurasse a comunhão perdida. Quem ofereceu essa solução ao homem foi o próprio Deus, conforme está provado pelos exemplos acima expostos. Esta acção revela a Sua extrema bondade (cf. Sl. 103). Por outro lado, a oferta sacrificial do homem revela a sua vontade de propiciar o seu Criador para reencontrar a paz e a comunhão. Visto o sangue ser símbolo, tanto de vida como de morte, era necessário usar o sangue da vítima para libertar o vivo da morte.
Considerando a universalidade do pecado e a incapacidade do homem resolver o problema por si mesmo, havia necessidade que Deus fizesse alguma coisa para reaproximar o homem de Si mesmo. Deus não seria justo se não cumprisse a Sua palavra. E Deus não seria amor se não libertasse o homem da condenação. Ele é amor e justiça ao mesmo tempo. Porque não existe amor sem justiça, nem justiça sem amor. O fiel da balança do Senhor, o justo juiz, deve manter-se no ponto central. Ele não tem pendências.
“Na verdade, não há homem justo sobre a terra, que faça o bem e nunca peque” (Ecl. 7.20). Paulo usou este trecho quando disse aos romanos: “Não há um justo, nem um sequer, todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só (Rm. 3.10,12). E ninguém pode ocultar de Deus o seu pecado. Ele é tão puro de olhos que não pode ver o mal (Hab. 1.13). Foi por este motivo que o homem ficou separado de Deus. Porque “as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós para que vos não ouça” (Is. 59.2). Este era o motivo por que o Senhor não respondia ao seu clamor.
O salmista reconhecia que ninguém pode remir a seu irmão, ainda que tenha muitas riquezas, porque a sua redenção é caríssima” (Sl. 49.6,7). É uma ilusão esperar e confiar que os familiares poderão pagar algum resgate pelo seu falecido. Por conseguinte, havia necessidade de sacrificar animais até que alguém com mais poder oferecesse um sacrifício por todos.
A vítima da expiação devia ser sempre sem defeito para servir de substituto ao pecador. Por isso, tal vítima seria muito cara, pois o pecado também não deve ser considerado coisa banal. A morte da vítima era a parte mais importante no ritual da cerimónia expiatória porque essa era a pena merecida pelo pecador. Além disso, há muitas alusões ao sangue da vítima como o meio exacto da expiação. Expiação é o acto pelo qual o ofertante redime, ou repara, a sua culpa. É o pagamento da sua culpa diante de Deus a fim de manter o bom relacionamento.
O sangue foi requerido por Deus para expiação do pecado (Lv. 17.11), porque sem derramamento de sangue não há remissão (Hb. 9.22). O sangue de animais puros foi requerido diariamente sobre o altar (Êx. 29.38–42). Nesse altar o fogo arderia continuamente, sempre vigiado e mantido pelos sacerdotes em serviço por turnos (Lv. 6.8–13). Além disso o sangue foi requerido anualmente no altar para fazer expiação por todo o povo (Lv. 16.32–34).
O sangue dos animais que era derramado e espargido à volta do altar cobria o pecado, mas não tirava o pecado de forma alguma; isto repetia-se anualmente (Hb. 10.11). Por este motivo, havia necessidade de um sacrifício melhor (Hb. 9.14,24). Ora, este sangue apontava para sangue mais valioso, o sangue do Cordeiro de Deus que havia de vir para tirar o pecado do mundo. No Antigo Testamento todo o ritual de sacrifícios apontava para o Cristo que havia de vir a fim de expiar os nossos pecados, derramando, para isso, o seu imaculado sangue.
A seguir: Jesus Cristo