A Sarça em fogo

sarca

E apare­ceu-lhe o anjo do Sen­hor em uma chama de fogo do meio duma sarça. Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se con­sum­ia.” (Êxo­do 3:2)

Questão

É estran­ho que um pequeno arbus­to estivesse envolvi­do em chamas sem se con­sumir. O que teria acon­te­ci­do de anor­mal, e como acon­te­ceu? Sabe­mos que esse fac­to atraiu Moisés a aprox­i­mar-se para obser­var mel­hor e, como resul­ta­do, ouviu a voz de Deus. Porém, não o viu em lado algum. En­tão, por que moti­vo Deus se rev­el­ou por meio do fogo?

Contexto bíblico

Quan­do Deus fez um pacto com Abrão, Ele con­fir­mou essa aliança fazen­do pas­sar pelo meio daque­las metades expostas per­ante o Sen­hor uma tocha de fogo, con­forme está escrito: “Quan­do o sol já esta­va pos­to, e era escuro, eis um fogo fumegante e uma tocha de fogo, que pas­saram por entre aque­las metades.” (Gn 15:17). Este fac­to foi a com­pro­vação de que o Sen­hor cumpriria o acor­do feito entre Ele e Abrão. 

Quan­do Deus quis chamar Moisés à sua pre­sença atraiu‑o com uma sarça envol­ta em fogo, mas sem ser queima­da, con­forme o tre­cho supra. Da mes­ma for­ma, quan­do Deus quis demon­strar a sua supe­rioridade sobre o deus solar do Egip­to ‘Ra’, provo­cou trevas em todas as sua habitações; porém, o seu povo tin­ha luz nas suas casas, como pro­va que Deus esta­va com eles: “Não se viram uns aos ou­tros, e ninguém se levan­tou do seu lugar por três dias; mas para todos os fil­hos de Israel havia luz  nas suas habitações” (Êx 10:23). 

Após terem saí­do do Egip­to, os hebreus foram acom­pan­hados por uma nuvem e uma chama de fogo com­pro­van­do que eram acom­pan­hados por Deus: “E o Sen­hor ia adi­ante deles, de dia numa col­u­na e os dois para os guiar pelo cam­in­ho, e de noite numa col­u­na de fogo para os alu­mi­ar, a fim de que cam­in­has­sem de dia e de noite.” (Êx 13:21). E mais adi­ante nar­ra: “Na vigília da man­hã, o Sen­hor, na col­u­na do fogo e da nuvem, olhou para o cam­po dos egíp­cios e alvoroçou o cam­po dos egíp­cios” (Êx 14:24).  

Haven­do cha­ga­do ao Sinai, o Sen­hor man­i­festou-se igual­mente ali em for­ma de fogo: “Nis­so todo o monte Sinai fumega­va porque o Sen­hor descera sobre ele em fogo; e a fumaça subiu como a fumaça de uma for­nal­ha, e todo o monte trem­ia forte­mente.” (Êx 19:18). E o povo temia pela pre­sença do Sen­hor porque “a aparên­cia da glória do Sen­hor era como um fogo con­sum­i­dor no cume do monte, aos olhos dos fil­hos de Israel.” (Êx 24:17).  

Quan­do o Tabernácu­lo foi lev­an­ta­do e con­sagra­do, este foi cheio da glória do Sen­hor e “a nuvem do Sen­hor esta­va de dia sobre o tabernácu­lo, e o fogo esta­va de noite sobre ele, per­ante os olhos de toda a casa de Israel, em todas as suas jor­nadas.” (Êx 40:38). Deus man­i­fes­ta­va sem­pre a sua pre­sença medi­ante a nuvem e o fogo. Moisés orde­nou que o fogo no altar dos sac­ri­fí­cios não devia apa­­gar-se, como sinal da pre­sença con­stante de Deus, de acor­do com o tre­cho de Lev­íti­co: “O fogo so­bre o altar se con­ser­vará ace­so; não se apa­gará. O sac­er­dote acen­derá lenha nele todos os dias pela man­hã, e sobre ele porá em ordem o holo­caus­to, e queimará a gor­du­ra das ofer­tas pací­fi­cas.” (Lv 6:12).

Out­ro rela­to infor­ma que dois fil­hos de Arão pro­ced­er­am aleivosa­mente per­ante o Sen­hor: “Ora, Nad­abe, e Abiú, fil­hos de Arão, tomaram cada um o seu incen­sário e, pon­do nele fogo e dei­tan­do in­censo sobre ele, ofer­e­ce­r­am fogo estran­ho per­ante o Sen­hor, o que ele não lhes ordenara.” (Lv 10:1). O fogo para ado­ração deve ser prove­niente do altar, da pre­sença do Sen­hor, e não doutro sitio qualquer. 

Em Deuteronómio, Moisés recor­da ao povo a exper­iên­cia no Sinai des­ta for­ma: “E o Sen­hor vos fa­lou do meio do fogo; ouvistes o som de palavras, mas não vistes for­ma algu­ma; tão-somente ouvis­tes uma voz… Porque o Sen­hor vos­so Deus é um fogo con­sum­i­dor, um Deus zeloso (ciu­men­to).” (Dt 4:12,24). Tam­bém, quan­do dis­tribuía as bênçãos ao povo, abençoou José des­ta maneira: “com as coisas exce­lentes da ter­ra, e com a sua plen­i­tude, e com a benevolên­cia daque­le que habita­va na sarça; ven­ha tudo isso sobre a cabeça de José, sobre o alto da cabeça daque­le que é príncipe entre seus irmãos.” (Dt 33:16).   

As Escrit­uras nar­ram a exper­iên­cia de Elias com os fal­sos pro­fe­tas apoia­dos por Jez­abel, compro­vando que Deus esta­va com ele: “Então invo­cai o nome do vos­so deus, e eu invo­carei o nome do Sen­hor; e há de ser que o deus que respon­der por meio de fogo, esse será Deus. E todo o povo res­pondeu, dizen­do: É boa esta palavra… Então caiu fogo do Sen­hor e con­sum­iu o holo­caus­to, a lenha, as pedras, e o pó, e ain­da lam­beu a água que esta­va no rego.” (1 Rs 18:24,38).   Quan­do Salomão, que con­sagra­va o Tem­p­lo edi­fi­ca­do para o Sen­hor, acabou de orar “todos os fil­hos de Israel, ven­do descer o fogo e a glória do Sen­hor sobre a casa, pros­traram-se com o ros­to em ter­ra sobre o pavi­mento, ado­raram ao Sen­hor e der­am-lhe graças, dizen­do: Porque ele é bom, porque a sua benignida­de dura para sem­pre.” (2 Cr 7:3).   

O livro de Eze­quiel con­ta-nos a sua exper­iên­cia no tem­po do cativeiro na Babiló­nia: “Sucedeu pois, no sex­to ano, no mês sex­to, no quin­to dia do mês, estando eu assen­ta­do na min­ha casa, e os anciãos de Judá assen­ta­dos diante de mim, que ali a mão do Sen­hor Deus caiu sobre mim. Então olhei, e eis uma semel­hança como aparên­cia de fogo. Des­de a aparên­cia dos seus lom­bos, e para baixo, era fogo; e dos seus lom­bos, e para cima, como aspec­to de resplen­dor, como e bril­ho de âmbar.” (Ez 8:1,2).   E Malaquias nar­ra-nos a sua visão do dia da vin­da do Sen­hor des­ta for­ma: “Mas quem su­portará o dia da sua vin­da? e quem sub­si­s­tirá, quan­do ele apare­cer? Pois ele será como o fogo de fun­di­dor e como o sabão de lavan­deiros.” (Ml 3:2). 

E João, enquan­to se encon­tra­va cati­vo em Pat­mos, tam­bém teve uma visão semel­hante que nar­ra des­ta maneira: “E voltei-me para ver quem fala­va comi­go. E, ao voltar-me, vi sete can­deeiros de ouro, e no meio dos can­deeiros um semel­hante a fil­ho de homem, vesti­do de uma roupa talar, e cin­gido à altura do peito com um cin­to de ouro; e a sua cabeça e cabe­los eram bran­cos como lã bran­ca, como a neve; e os seus olhos como chama de fogo; e os seus pés, semel­hantes a latão reluzente que fora refi­na­do numa for­nal­ha; e a sua voz como a voz de muitas águas.” (Ap 1:12–15). “Ao anjo da igre­ja em Tiati­ra escreve: Isto diz o Fil­ho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo e os pés semel­hantes a latão reluzente: Con­heço as tuas obras, e o teu amor, e a tua fé, e o teu serviço, e a tua per­se­ver­ança… Mas ten­ho con­tra ti que tol­eras a mul­her Jez­abel, que se diz pro­feti­sa… mas o que ten­des, retende‑o até que eu ven­ha.” (Ap 2:18,9,20,25). 

Fal­ta men­cionar aqui a com­para­ção entre o cumpri­men­to do primeiro pen­te­costes, no Sinai e o pen­tecostes em Jerusalém. No Sinai, o Sen­hor “disse a Moisés: Sobe a mim, ao monte, e espera ali; e dar-te-ei tábuas de pedra, e a lei, e os man­da­men­tos que ten­ho escrito, para lhos ensinares.” (Êx 24:12). “E me farão um san­tuário para que eu habite no meio deles. Con­forme a tudo o que eu te mostrar para mod­e­lo do tabernácu­lo e para mod­e­lo de todos os seus móveis, assim mes­mo o fareis.” (Êx 25:8,9). No Sinai, Deus entre­gou a Lei ao povo rebelde; mas em Jerusalém, o Sen­hor doou o Espíri­to San­to ao povo crente. No Sinai orde­nou a con­strução de uma Ten­da para habitar no meio do povo; em Jerusalém veio habitar no povo crente por inter­mé­dio do Espíri­to Santo. 

O livro de Lev­íti­co fornece-nos a fór­mu­la para encon­trar o dia fes­ti­vo do pen­te­costes, deste modo: “Con­tareis para vós, des­de o dia depois do sába­do, isto é, des­de o dia em que hou­verdes trazi­do o mol­ho da ofer­ta de movi­men­to (na pás­coa), sete sem­anas inteiras; até ao dia seguinte ao séti­mo sá­bado, con­tareis cinquen­ta dias; então ofer­e­cereis nova ofer­ta de cereais ao Sen­hor.” (Lv 23:15,16). O Pen­te­costes era, por con­seguinte, uma fes­ta judaica cel­e­bra­da cinquen­ta dias após o sába­do da Pás­coa, o qual caía no primeiro dia da sem­ana, que é para os cristãos o domingo. 

Então, após a ascen­são de Cristo, e “ao cumprir-se o dia de Pen­te­costes, estavam todos reunidos no mes­mo lugar. De repente veio do céu um ruí­do, como um ven­to impetu­oso, e encheu toda a casa onde estavam sen­ta­dos. E apare­ce­r­am-lhes umas lín­guas repar­tidas como fogo, e sobre cada um de­les pousou uma.” (At 2:1–3). Este sinal foi a con­fir­mação que Deus tin­ha cumpri­do a sua promes­sa de enviar o Seu Espíri­to sobre as pes­soas, con­forme proclam­ou Pedro aos seus ouvintes pas­ma­dos pelo acon­tec­i­men­to: “isto é o que foi dito pelo pro­fe­ta Joel: E acon­te­cerá nos últi­mos dias, diz o Se­nhor, que der­ra­marei do meu Espíri­to sobre toda a carne; e os vos­sos fil­hos e as vos­sas fil­has profe­tizarão, os vos­sos mance­bos terão visões, os vos­sos anciãos terão son­hos; e sobre os meus ser­vos e sobre as min­has ser­vas der­ra­marei do meu Espíri­to naque­les dias, e eles pro­fe­ti­zarão.” (At 2:16–18).

Conclusão

Pelo expos­to con­cluí­mos que Deus tem usa­do o fogo, em todas as ger­ações, como sím­bo­lo da Sua pre­sença no meio do povo. Infe­r­i­mos tam­bém que esse fogo jamais dev­erá extin­guir-se, sob pena de não des­fru­tar­mos da Sua pre­sença, ape­sar dos esforços feitos nesse sen­ti­do. Não impor­ta a assidui­dade na assistên­cia aos cul­tos, nem os sac­ri­fí­cios efec­tu­a­dos para agradar a Deus, se não exi­s­tir com Ele uma comunhão ínti­ma e con­stante. Se o Sen­hor estiv­er em nós, como esta­va na sarça, jamais se­remos con­sum­i­dos, mas ter­e­mos a vida eter­na, como disse o Sen­hor Jesus: “Per­mane­cei em mim, e eu per­manecerei em vós; como a vara de si mes­ma não pode dar fru­to, se não per­manecer na videi­ra, assim tam­bém vós, se não per­manecerdes em mim. Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem per­manece em mim e eu nele, esse dá muito fru­to; porque sem mim nada podeis faz­er.” (Jo 15:4,5). O Espíri­to San­to veio para ficar connosco para sem­pre; por isso, con­serve­mo-lo connosco para sem­pre. Assim seja

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