Aspectos da expiação
A expiação tem aspectos que devem ser considerados à luz das palavras usadas nas Sagradas Escrituras. Cada uma delas exprime a acção reparadora do bom relacionamento entre Deus e o homem.
Propiciação, provém do grego “ilasmoj” (ilasmos) que significa tornar alguém propício por meio duma acção reparadora. Isto referia-se à actividade ritual do sacerdote oferecendo o sangue do sacrifício sobre o altar e sobre a arca do concerto. A tampa dessa arca era chamada propiciatório, e era espargida com o sangue do sacrifício. Esta acção tornava Deus propício, favorável ao pecador, de forma a ser restabelecido o bom relacionamento entre Ele e o pecador perdoado. Bastam-nos duas frases do N.T. para compreendermos a ideia de propiciação: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador.” Este foi justificado (Lc. 18.13). E ainda as palavras de Pedro dirigidas a Cristo: “Senhor tem compaixão de ti”, ou, “sê propício a ti” (Mt. 16.22).
Na velha aliança a ideia veio de Deus, mas a acção devia partir do homem. Anualmente, em Israel, era celebrado o dia da expiação com sacrifícios de animais (Lv. 23.27,28; Dt. 21.8). Na nova aliança tanto a ideia como a acção partiram de Deus. O Senhor fez tudo para nos propiciar e nos tornar agradáveis a Si mesmo.
Deus propôs o seu Filho para propiciação pelos nossos pecados (Rm. 3.25). Ele enviou o seu Filho para propiciação pelos nossos pecados (1 Jo. 4.10). Havia de ser semelhante aos homens para propiciar os seus pecados (Hb. 2.17). Jesus é a propiciação eterna e universal pelos pecados (1 Jo. 2.2). O Seu sacrifício foi perfeito e anulou os sacrifícios imperfeitos que nunca podiam tirar o pecado (Hb. 10.12–18). Sendo perfeito, um único sacrifício anulou a força do pecado para sempre; “porque com um só sacrifício aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hb. 10. 14,17).
Redenção vem de “lutrosij” (lutrosis) e tem o significado do pagamento dum preço para resgatar um escravo, ou um condenado. Nela existe a ideia de livramento. O escravo podia, caso alcançasse o suficiente, pagar a sua própria liberdade. Em nossos dias, ainda os prisioneiros de guerra são libertados mediante preço acordado entre as partes. O sentido está bem ilustrado na acção de Deus em relação a Israel. “Eu sou Yahweh, e vos tirarei de debaixo das cargas dos Egípcios, vos livrarei da sua servidão e vos resgatarei com braço estendido e com juízos grandes” (Êx. 6.6). Estêvão reconheceu em Moisés o redentor de Israel, ao dizer dele: “A este enviou Deus como príncipe e libertador” (Act. 7.35)
Mas, vindo Cristo, ofereceu-se a si mesmo em eterna redenção por todos (Hb. 9.11–15). Jesus identificou-se como o redentor e redenção para muitos (Mt. 20.28). Jesus imaculado verteu o seu sangue precioso para redenção de muitos (cf. 1 Pd. 1.18–20). A graça de Deus manifestou-se na redenção efectuada por Cristo, trazendo salvação a todas as pessoas (Tt. 2.11,14). “Não por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário havendo efectuado uma eterna redenção (Hb. 9.12). Isto significa que o pagamento efectuado por Cristo tem valor eterno, não havendo, por conseguinte, necessidade de oferecer mais sacrifícios pelos pecados. Tendo em consideração o valor da eterna redenção efectuada por Cristo, como cristãos podemos confessar pela fé os seguintes efeitos:
Estou redimido da condenação à morte eterna, “porque quem crê nele já não é condenado” (Jo. 3.18).
Estou libertado da escravidão do pecado, “porque libertado do pecado fui feito servo da justiça” (Rom. 6.18).
Estou purificado de todo o pecado, porque o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1 Jo. 1.7).
Estou justificado perante Deus, “porque tenho sido justificado em nome do Senhor Jesus e pelo Espírito do Nosso Deus” (1 Co. 6.11).
Estou reconciliado e em paz com Deus, porque Ele me reconciliou consigo mesmo pelo sacrifício de Cristo, que eu aceito pela fé (1 Co. 5.18; Rm. 5.1).
O sangue de Cristo foi o preço de valor extraordinário pago para conseguir aquilo que o de animais jamais alcançou sobre o altar do sacrifício. Judas confessou que traiu sangue inocente, e Pilatos considerou-se inocente do sangue daquele justo (Mt. 27.4,24). Jesus afirmou que o seu sangue era o selo da Nova Aliança (Mat. 26.28). Assim como os contratos precisam de selo para serem validados, também a Nova Aliança foi selada, mas com o sangue de Cristo. Ele é a garantia da sua validade eterna perante Deus. O Senhor garantiu-nos a vida eterna pelo seu sangue; porque, disse Ele: “quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna” (Jo. 6.54).
E Pedro demonstrou entender estas Suas palavras quando respondeu: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (Jo. 6.68). Assim, quem se alimenta da Sua palavra alimenta-se para a vida eterna. O sangue de Cristo providenciou a redenção e remissão das nossas ofensas (Ef. 1.7), de modo a sermos justificados (Rom. 5.9), purificados de todo o pecado (1 Jo. 1.7,9) e aproximados de Deus; (Ef. 2.13). Finalmente, a fé no sangue do Cordeiro resulta em vitória sobre o adversário (Ap. 12.11).
Reconciliação, do grego “katallagh” (katalaguê) tem a ver com o bom relacionamento, recomeçado em virtude do esforço de alguém que é amigo. Esta palavra tem o sentido de eliminação duma ofensa existente que separava as partes envolvidas. Como o pecado é considerado inimizade contra Deus, causou separação entre o homem e Deus. Um Deus santo não pode manter comunhão com o homem enquanto este viver em pecado. Por este motivo, o Senhor sentiu a necessidade de eliminar a causa da separação a fim de voltar a desfrutar da sua comunhão com o homem que criara com tanto amor.
O caminho da reconciliação deveria ser encontrado na eliminação da causa fundamental da inimizade, o pecado. Assim, Deus tratou o caso da maneira mais correcta. Enviou o seu Filho e entregou‑o em sacrifício para, mediante a sua morte e derramamento de sangue, nos aproximar de Si mesmo; “porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus” (1 Pd. 3.18).
Observemos cinco trechos importantes referentes à reconciliação:
À inimizade pecaminosa Deus contrapõe o seu amor em Cristo (Rm. 5.8–10).
Tudo isto provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo (2 Co. 5.18).
Cristo com a sua morte desfez a inimizade e a separação (Ef. 2.13–16).
Agradou a Deus reconciliar consigo todas as coisas pela cruz (Cl. 1.19–22).
Ele entregou à Igreja o ministério da reconciliação (2 Co. 5.20).
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