Marcos 9:43 “Cortar a mão”
“E se a tua mão te fizer tropeçar, corta‑a; melhor é entrares na vida aleijado, do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga.”
Questão
Será correcto cortar a própria mão em virtude da tentação para pecar com ela? Terá o Senhor ordenado arrancar o olho ou a mão para vencer a tentação?
Contexto bíblico
Primeiro, devemos inserir também aqui o mesmo tema narrado por Mateus: “E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta‑a e lança‑a de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que vá todo o teu corpo para o inferno;” (Mt 5:30). Consideremos que estas palavras foram pronunciadas em contexto muito especial; elas fazem parte do sermão da montanha, quando Jesus ensinava os discípulos acerca da Lei e do reino de Deus.
O Senhor informara-os que não tinha vindo para acabar com a Lei, mas para cumpri-la fiel e integralmente. Então, passou a descrever alguns itens de certa gravidade, e a comparar o ensino da tradição com os seus próprios ensinamentos. O Senhor informou ser mais rigoroso do que a lei tradicional de acordo com estas palavras: “ouvistes o que foi dito …; Eu, porém, vos digo …;” E sempre declara maior exigência que a própria lei tradicional.
Jesus começa por declarar bem-aventurados aqueles que reúnem as condições narradas nos versículos três a onze do capítulo cinco de Mateus.
Depois ensina que os seus discípulos devem marcar a diferença, assim como a luz das trevas, dizendo-lhes que devem ser sal e luz com influência nas massas deste mundo. E, se por isso forem maltratados, devem alegrar-se pelo facto de serem participantes de um galardão no céu: “Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram aos profetas que foram antes de vós;” (Mt 5:12).
As ditas condições para fazer parte do reino dos céus, assim como ser o sal e a luz, são exemplificados a seguir com figuras vivas retiradas da vivência social contemporânea. O Senhor faz a abertura com as seguintes palavras: “Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus; (Mt 5:20). Jesus asseverou que a justiça é a grande marca do seu reino. Por conseguinte, os seus discípulos devem ser justos, em comprovação prática pelo facto de haverem sido justificados pela fé. E passa a dizer o seguinte:
1. Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; Quem matar será réu de juízo. – Erradamente, as mãos servem para matar.
a) Eu, porém, vos digo: aquele que se encolerizar com seu irmão será réu de juízo. – Antes de usar as mãos é preciso desfazer a ira.
2. Ouvistes o que dito: não adulterarás.
a) Eu, porém, vos digo: aquele que olhar para uma mulher para cobiçá-la, já em seu coração cometeu adultério. Os olhos, erradamente, levam á cobiça. – Para não perder o reino seria preferível perder um olho; mas é melhor retirá-lo do objecto tentador e não o perder.
3. Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca‑o e lança‑o de ti; pois é melhor que se perca um dos teus membros do que ser todo o teu corpo lançado no inferno.
a) E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta‑a e lança‑a de ti; pois é melhor que se perca um dos teus membros do que ir todo o teu corpo para o inferno.
4. Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente.
a) Eu, porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; – Não uses as mãos para fazer o mesmo.
b) E ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa. – Sofre as injustiças, mas procura dar o exemplo da justiça.
5. Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo.
a) Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem;
b) Para que sejais filhos do vosso Pai que está no céu; porque Ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos. – Procurai seguir o exemplo de vosso Pai; não vos vingueis, antes orai por aqueles que vos prejudicam.
6. Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial.
a) O Senhor requer uma perfeição semelhante à do Pai celestial, e isso tem a ver com:
i. Carácter espiritual, deixando-nos guiar pelo Espírito Santo. O que faria Jesus naquele momento?
ii. Carácter mental, pensando e decidindo à luz do amor, que é Deus. Tudo o que é bom e serve para louvor, nisso pensemos.
iii. Carácter moral, vivendo em santidade, como Ele é santo, separado para servir a Deus, fazendo o que Jesus faria.
b) Amar e orar pelos inimigos é a forma máxima da perfeição, isto é, do crescimento espiritual, a prova prática do cristão maduro, é a vida santificada ao serviço do reino do céu.
Conclusão
Jesus não ensinou, nem é, de forma alguma, necessário alguém arrancar um olho, nem cortar a mão para evitar a tentação; nem o é em virtude de ser tentado pelos olhos para agir erradamente com as mãos. É mais sábio e justo retirar os olhos e as mãos do objecto tentador, porque tanto os olhos como as mãos são muito mais valiosos e úteis do que o tal objecto da tentação. Então, quando for esse o caso, desviemos os nossos olhos e as mãos para outra actividade mais justa, segundo o padrão do reino dos céus. O Senhor promete bênçãos eternas àqueles que se encaixarem no sermão do monte e viverem pela fé na observação desses itens.