“E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou para que Deus seja tudo em todos.” 1 Co 15:28
Questão
Visto que o Filho se sujeita ao Pai, logo o Pai é superior ao filho. Contrariemos esta opinião de alguns mediante o estudo acurado através do contexto bíblico. Desde já diga-se, em abono da verdade, que a sujeição do Filho ao Pai não é senão perfeito acordo de vontades e o principal exemplo a ser seguido pelos seus discípulos em toda a parte. Conforme o sábio conselho de Tiago, irmão do Senhor, que diz: “Deus resiste aos soberbos; dá, porém, graça aos humildes. Sujeitai-vos, pois, a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4:6,7).
Contexto bíblico
As Sagradas Escrituras apresentam Jesus ao mesmo nível do Pai, tanto em essência como em autoridade. Deus Pai vive espiritualmente, Deus Filho vive espiritualmente. Deus é amor, Jesus demonstrou amor até na cruz. Deus é luz, Jesus afirmou ser a luz do mundo. Deus é a verdade, Jesus assegurou que é a verdade. Deus é justiça, Jesus cumpriu a justiça até no seu baptismo. Deus Pai é Soberano, Deus Filho é Soberano. Pois, “Todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés. Mas, quando diz: Todas as coisas lhe estão sujeitas, claro está que se exceptua aquele que lhe sujeitou todas as coisas” (1 Co 15:27).
Observemos uma profecia a respeito do trono de David: “A tua casa, porém, e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre” (2 Sm 7:16). Então, a profecia a respeito do herdeiro eterno: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Do aumento do seu governo e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o estabelecer e o fortificar em rectidão e em justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos exércitos fará isso” (Is 9:6,7). O trono do Pai é o trono do Filho conforme está escrito: “Mas do Filho diz: O teu trono, ó Deus, subsiste pelos séculos dos séculos, e cetro de equidade é o cetro do teu reino” (Hb 1:8).
O Filho veio ao mundo para formar o seu reino sob autoridade delegada pelo Pai, como está escrito: “Porque Deus enviou o seu filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo 3:17). O Pai enviou o Filho, e este sujeitou-se à Sua vontade porque era também o Seu propósito. O Filho veio e amou-nos até à morte na cruz para propiciar os nossos pecados e podermos participar no seu reino: “Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós e enviou seu filho como propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4:10).
O Filho deu sempre exemplo de sujeição ao Pai, até nas coisas menores: Na ocasião do seu baptismo, disse o Senhor a João: “Consente agora; porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele consentiu” (Mt 3:15). Após o acto consumado “eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado em quem me comprazo” (Mt 3:17). Na ocasião do encontro com a Samaritana chegaram os discípulos com alimentos e convidaram-no a comer. “Disse-lhes Jesus: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e completar a sua obra” (Jo 4:34).
E o Senhor ensinava desta maneira a respeito da sujeição à vontade do Pai: “Pois qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Jo 12:49). É isto que Ele espera de nós: sujeição à vontade de Deus. “E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo‑o exactamente como o Pai me ordenou” (Jo 12:50). Visto Ele nos ter dado o exemplo de veracidade na mensagem, devemos seguí-lo fielmente para produzir vida eterna.
Ainda, Jesus assevera que crer na sua mensagem é o mesmo que crer no Pai. E vê-lo a Ele é o mesmo que ver o Pai. “Clamou Jesus, dizendo: Quem crê em mim, crê, não em mim, mas naquele que me enviou. E quem me vê a mim vê aquele que me enviou” (Jo 12:44,45). “Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta. Respondeu-lhe Jesus: Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não me conheces, Filipe? Quem me viu a mim, viu o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14:8,9).
De modo semelhante, mesmo às portas da morte, Jesus dá-nos o exemplo de sujeição pela maneira como humildemente se dirige ao Pai. Cremos que o Senhor conhecia o seu percurso, porém, as suas palavras são ensinamento prático para os discípulos: “E adiantando-se um pouco, prostrou-se com o rosto em terra e orou, dizendo: Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26:39). Isto é, aprendemos que a vontade de Deus é o mais importante. E por três vezes a lição foi repetida a fim de produzir resultados duradoiros. O mesmo aconteceu enquanto sofria na cruz: “Jesus, clamando com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isso, expirou” (Lc 23:46).
Em virtude da sua humilde sujeição foi Ele ressuscitado e assumiu lugar à direita do Pai com toda a autoridade, e tendo tudo a seus pés, conforme está escrito: …segundo a operação da força do seu poder, que operou em Cristo, ressuscitando‑o dentre os mortos e fazendo‑o sentar-se à sua direita nos céus, muito acima de todo principado, e autoridade, e poder, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro; e sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos” (Ef 1:20–23).
Paulo escreveu aos colossenses que agora Cristo é tudo em todos fazendo a união de raças: “…e vos vestistes do novo, que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; onde não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo ou livre, mas Cristo é tudo em todos” (Cl 3:10,11). Mas, conforme o mesmo escritor diz aos coríntios, quando tiver terminado a sua obra e tiver tudo a seus pés, Cristo abdicará da sua missão perante o Pai e lhe entregará tudo para que Ele seja tudo em todos (Cf. 1 Co 15:28).
Conclusão
Jesus não é inferior ao Pai em essência e autoridade. Eles são semelhantes em todos os aspectos; porém, o Filho pretende, com o seu exemplo, ensinar a obediência à vontade do Pai porque há nela vida eterna. A confirmar esta tese temos outra lição prática, no final da sua carreira terrena, quando Jesus lavou os pés aos discípulos e Ele interrogou: “Entendeis o que vos tenho feito?”. (Cf. Jo 13:12–15). O significado é que cada um deve considerar-se servo do outro naquilo que ele precisar. Assim seja.
Cferreira