Permanecer na fé

Actos 14:21,22

E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, Icónio e Antioquia, confirmando as almas dos discípulos, exortando-os a perseverarem na fé, dizendo que por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus.”

Questão

Então como é? Para entrar no reino de Deus é preciso sofrer tribulações? Não basta a graça de Deus e a fé do crente? Será preciso sofrer por causa da fé e da obediência à palavra de Deus?

Contexto bíblico

Sim, é verdade estar escrito que somos salvos pela graça e mediante a fé, como ensinou S. Paulo: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras para que ninguém se glorie.” (Ef 2:8,9). Deus, por sua infinita graça, ofereceu-nos a entrada no seu reino, a qual aceitamos pela fé, e isto acontece por Sua infinita misericórdia. Contudo, há um preço a pagar, não exigido por Deus, mas por aqueles que nos rodeiam, que estão dispostos a fazer-nos sofrer por não pactuarmos nos seus caminhos ímpios. O Senhor deixou-nos este aviso acerca do assunto em questão: “Tenho-vos dito estas coisas para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (Jo 16:33).

Jesus sabia perfeitamente o que nos esperava, pois primeiro sofreu ele mesmo pelo facto de ser obediente à vontade de seu Pai. E com os seus seguidores não seria diferente; “porque se isto se faz ao lenho verde, o que acontecerá ao seco?” Questiona o Senhor, referindo-se aos seus discípulos de todas as épocas. E disse mais: “Tenho-vos dito estas coisas para que não vos escandalizeis. Expulsar-vos-ão das sinagogas; ainda mais, vem a hora em que qualquer que vos matar julgará prestar um serviço a Deus. E isto vos farão porque não conheceram ao Pai nem a mim.” (Jo 16:1–3). A razão dos maus tratos é devido ao desconhecimento de Deus e de Seu Filho.

Logo no princípio da igreja, os apóstolos Pedro e João foram presos pelo simples facto de ensinarem acerca de Jesus, sendo após pouco tempo libertados; eles, porém, “retiraram-se pois da presença do sinédrio, regozijando-se de terem sido julgados dignos de sofrer afronta pelo nome de Jesus.” (At 5:41). O sofrimento pode ser considerado um teste à fidelidade, trazendo consigo a sua recompensa; pelo menos, assim reconheceu Estêvão quando, em sua defesa, recordou perante a assembleia do sinédrio a dolorosa experiência de José: “Os patriarcas, movidos de inveja, venderam José para o Egipto; mas Deus era com ele e o livrou de todas as suas tribulações, e deu-lhe graça e sabedoria perante Faraó, rei do Egipto, que o constituiu governador sobre o Egipto e toda a sua casa.” (At 7:9,10).

Enquanto Ananias estava receoso de se encontrar com Paulo, o Senhor revela-se-lhe com uma mensagem de ânimo e ordem: “Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome perante os gentios, e os reis, e os filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto lhe cumpre padecer pelo meu nome.” (At 9:15,16). E a ele mesmo ia sendo revelado o que lhe aconteceria por causa do seu ministério: “Agora, eis que eu, constrangido no meu espírito, vou a Jerusalém, não sabendo o que ali acontecerá, senão o que o Espírito Santo me testifica, de cidade em cidade, dizendo que me esperam prisões e tribulações.” (At 20:23).

O apóstolo sofredor expressa-se neste maravilhoso tom consolador em suas epístolas: “E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a perseverança, e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança” (Rm 5:3,4). E mais: “Grande é a minha franqueza perante vós, e muito me glorio a respeito de vós; estou cheio de consolação, transbordo de gozo em todas as nossas tribulações.” (2 Co 7:4). “Portanto peço-vos que não desfaleçais perante as minhas tribulações por vós, as quais são a vossa glória.” (Ef 3:13). “Agora regozijo-me no meio dos meus sofrimentos por vós e cumpro na minha carne o que resta das aflições de Cristo por amor do seu corpo, que é a igreja” (Cl 1:24). Para quê mais comentários sobre isto?! Completamente desnecessários.

Aos cristãos de Tessalónica, que estavam sofrendo por causa da Palavra de Deus, o mesmo apóstolo envia Timóteo e uma carta igualmente animadora: “…enviamos Timóteo, nosso irmão e ministro de Deus no evangelho de Cristo, para vos fortalecer e vos exortar acerca da vossa fé, para que ninguém seja abalado por estas tribulações, porque vós mesmo sabeis que para isto fomos destinados; pois, quando estávamos ainda convosco, de antemão vos declarávamos que havíamos de padecer tribulações, como sucedeu, e vós o sabeis.” (1 Ts 3:2–4).

E, ao seu discípulo e companheiro Timóteo, Paulo encoraja desta maneira: “Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa comigo dos sofrimentos do evangelho segundo o poder de Deus” (2 Tm 1:8). Ele próprio confessara o mesmo na epístola aos romanos “estou pronto para anunciar o evangelho também a vós, que estais em Roma. Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.” (Rm 1:15,16).

A epistola aos Hebreus contém uma advertência, a qual convém recordar a fim de recebermos ânimo necessário para suportar as nossas aflições por servir o Senhor que nos resgatou. “Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições; pois por um lado fostes feitos espectáculo, tanto por vitupérios como por tribulações, e por outro vos tornastes companheiros dos que assim foram tratados.” (Hb 10:32,33). Quem foram alguns desses?

Abel, por ser justo, foi assassinado pelo seu irmão Caim, por ser injusto. José, por receber a revelação de Deus, foi rejeitado e vendido pelos irmãos, por serem invejosos. Elias, por falar de acordo com Deus, foi perseguido por Jezabel, por ser devota dos ídolos. Isaías, por ser fiel à palavra de Deus, terá sido serrado pelo meio, no tempo de Manassés, por ser rei ímpio e pagão. Jeremias, por ser fiel às visões de Deus, foi lançado no calabouço, no reinado de Zedequias, por este não dar crédito à palavra de Deus. João Baptista, por defender a moral, foi decapitado, no reinado de Herodes, por este não temer ao Senhor.

A epístola aos Hebreus continua a narrar uma galeria de sofredores incógnitos, dos quais o mundo não era digno: “outros experimentaram escárnio e açoites, e ainda cadeias e prisões. Foram apedrejados e tentados; foram serrados ao meio; morreram ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra.” (Hb 11:36–38). E Tiago, o irmão do Senhor, chama a nossa atenção para o exemplo dos profetas: “Irmãos, tomai como exemplo de sofrimento e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor.” (Tg 5:10).

O apóstolo Pedro enviou este importante apelo à Igreja Universal: “Sede sóbrios, vigiai. O Diabo, vosso adversário, anda em derredor rugindo como leão, procurando a quem possa tragar, ao qual resisti firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão-se cumprindo entre os vossos irmãos no mundo.” (1 Pd 5:8,9).

Conclusão

À luz do exposto acima, e segundo a experiência dos grandes heróis da fé, as tribulações são motivadas pelo facto de sermos obedientes a Deus e de outros acharem estranho que não vivamos à maneira deles. Todavia, as tribulações por esta causa produzem paciência e fortaleza para conservar a fé, e serão maravilhosamente recompensadas, de acordo com Paulo: “O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus; e, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos para que também com ele sejamos glorificados. Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há-de ser revelada.” (Rm 8:16–18).

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