É importante que conheçamos a verdade a nosso respeito. E quem melhor poderá conhecer o homem do que o seu Criador? Ele deixou-nos a revelação certa acerca do que somos nas Sagradas Escrituras. A Bíblia ensina-nos claramente que Deus criou as suas criaturas segundo a sua espécie. O Homem não podia fugir à regra.
A criação do homem é a coroa das obras perfeitas de Deus. Primeiro, a terra foi criada e recebeu vida vegetal e animal. Então, criou o homem e a seguir deu-lhe vida. O corpo humano é a obra prima do Criador porque é uma criação especial; é à Sua semelhança. Deus não achou criatura alguma das que criara com quem pudesse manter uma comunhão pessoal. Por isso, criou o homem do pó à sua imagem e semelhança (Gn. 1.26,27). Desta maneira já podia desfrutar aquela comunhão que almejava, porque eram semelhantes.
Havendo criado o homem assoprou sobre ele o espírito e ele começou a viver diante daquele que o criara. Deste modo, o homem ficou sendo, como o seu Criador, uma trindade. Isto é, ele é composto por espírito, alma e corpo. O corpo veio do pó da terra; O hebraico diz que Deus formou “adam” do pó da (hmda) “adama” por isso foi chamado Adão. O espírito veio de Deus e juntos formam uma alma vivente (Gn. 2.7). Em hebraico o espírito “ruwách” (hVr) que se movia sobre as águas foi assoprado no corpo e tornou-se uma alma vivente “nefésh áyâ” ( hYx wpn). O corpo só tem alma enquanto tiver o espírito.
Como espírito que é, o homem tem capacidade de relacionamento e comunhão com Deus. Como alma, ele tem possibilidade de conhecer-se e de ter sentimentos. Com o corpo, através dos cinco sentidos, tem percepção e contacto com o mundo que o rodeia (Is. 26.9). Deus fez um tabernáculo, uma casa terrestre, e colocou ali o espírito (2 Co. 5.1). A trindade humana é exemplificada por Paulo na instrução que dá à Igreja a fim dos seus membros serem santos nos três aspectos, no espírito, alma e corpo (1 Ts. 5.23). Um conjunto de três que precisa de santificação completa a fim de manter comunhão com o Criador.
Agora, o homem e o Pai dos espíritos (Nm.16.22) cooperam para trazer uma alma nova ao mundo com educação (Hb. 12.9). Ao nascer já trazemos a alma, essa parte onde opera a consciência e a personalidade, que os irracionais não possuem. A alma penetra todas as partes do nosso corpo. É por isso que as Escrituras atribuem sentimentos de sofrimento a vários órgãos do corpo. Jó acusa os seus amigos de fazerem sofrer os seus rins e o fel (Jó 16.13). David confessa que sente azedo o coração e picadas nos seus rins (Sl. 73.21). Cristo diz que quem crer nele rios de água viva correrão do seu ventre, significando a alegria do Espírito Santo (Jo. 7.38). Paulo pede a Filemom que receba Onésimo como às suas próprias entranhas, significando ele mesmo; (Fl.12).
A semelhança do homem com Deus tem a ver com o carácter. O Criador foi o modelo da sua criação; inspirou-se em Si mesmo e não noutro ser qualquer. O Senhor disse a Moisés: “Fala a toda a congregação dos filhos de Israel e diz-lhes: Santos sereis porque Eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv. 19.2). E Jesus falou aos seus contemporâneos, assim: “Sede vós pois perfeitos como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mt. 5.48). Pelo contexto sabemos que perfeição está sendo referida. Pois, o Senhor estava instruindo sobre o amor ao próximo (vv. 44,45). Ora, como Deus é amor, é lógico que os seus filhos tenham esse mesmo amor, ou não provam ser filhos do Deus amoroso (1 Jo. 4.7–11). “Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor” (1 Jo. 4.12).
Além disso, o homem foi dotado de livre arbítrio, ou capacidade de decisão, quando recebeu a ordem de comer de tudo, menos de certa árvore. Esse foi o teste à sua capacidade de escolha (Gn. 2.16,17). Sabemos que o casal decidiu desobedecer à orientação divina e, por este motivo, caiu da graça de Deus e perdeu a comunhão com Ele (Gn. 3). Os instintos são as forças motrizes da personalidade que nos dão aptidão para a existência terrena. O Criador dotou-nos com instinto e capacidade reprodutora a fim de enchermos a terra e desfrutarmos da sua criação (Gn. 1.28,29).
O Senhor também dotou o homem com capacidade governativa e domínio sobre todas as coisas (Gn. 1.28b). Ainda, temos o instinto e a necessidade de viver em sociedade, porque não é bom que o homem esteja só (Gn. 2.18). Por isso, é bom que cada homem tenha a sua companheira tal como Deus destinou (Gn. 2.21–24). O casal passou a conviver sem vergonha alguma porque viviam segundo os propósitos divinos (Gn. 2.25). Quando transgrediram aqueles propósitos perderam a comunhão com o Criador e esconderam-se com vergonha (Gn. 3.8–10).
A imortalidade é outra característica divina que foi transmitida ao homem. Nós fomos criados com vocação para a vida eterna, com direito à árvore da vida da qual se devia alimentar para usufruir desse direito (Gn. 2.9). Deus deu instruções claras acerca dos seus direitos e deveres para que mantivesse a vida eterna. Ele devia cuidar do jardim e alimentar-se dele; porém, não devia comer da árvore da ciência do bem e do mal porque, nesse caso, morreria (Gn. 2.15–17). O homem recebeu um único mandamento negativo, o qual desobedeceu quebrando deste modo a comunhão com Deus e perdendo, assim, a vida eterna. Ficou o homem, a partir daquele momento, sujeito ao trabalho duro do campo e à morte. Disse Deus: “porquanto és pó ao pó tornarás” (Gn. 3.17–19).
O apóstolo Paulo confirmou que o salário do pecado é a morte (Rm. 3.23; 6.23). O pecado é um mau pagador. A pessoa sofre em vida e também na eternidade. A morte não significa necessariamente cessar de viver. É simplesmente uma separação entre o espírito e o corpo, e também entre pessoas. A ilustração de Jesus acerca do rico e Lázaro é esclarecedora a este respeito. Após a morte, o rico, em tormentos, contemplou o pobre Lázaro, no outro lado, em consolação (Lc. 16.22–25). Vida real só existe em comunhão com Deus pela fé no seu Filho, tanto no presente como no futuro. Como disse Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim ainda que esteja morto viverá; e todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá” (Jo. 11.25). Enoque e Elias não passaram pela sepultura, foram tomados directamente por Deus à Sua presença (Gn. 5.24; 2 Rs 2.11).