Ao Deus desconhecido

Actos 17:23

Porque, pas­san­do eu e obser­van­do os objec­tos do vos­so cul­to, encon­trei tam­bém um altar em que esta­va escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós hon­rais sem o con­hecer, é o que vos anuncio.”

Questão

Vis­to que os gre­gos con­heci­am tan­tos deuses, por que moti­vo não tin­ham con­hec­i­men­to do Deus de Israel? E que Deus tão espe­cial era ele para dev­er ser con­heci­do e ado­ra­do por todos? Como é pos­sív­el con­hecer esse Deus tão especial?

Con­tex­to bíblico

Emb­o­ra os gre­gos tivessem con­hec­i­men­to da existên­cia de miríades de deuses, que deuses não eram, mas rep­re­sen­tavam sim­ples­mente as forças da natureza. Cada deus tin­ha a sua espe­cial­i­dade e pon­tif­i­ca­va nes­sa área especí­fi­ca. Nen­hum se metia nas activi­dades de out­ro. O Deus dos hebreus, porém, era espe­cial dev­i­do ao fac­to de Ele ser espe­cial­iza­do em todas as áreas da cri­ação. Pois no princí­pio Deus criou os céus e a ter­ra. Além dis­so, aque­les deuses pre­cisavam que lhes con­struíssem casas para nelas colo­carem as suas está­tuas. O Deus descon­heci­do não carece dessas habitações con­struí­das pelos home­ns porque Ele mes­mo tra­tou de arran­jar uma habitação espe­cial para Si mes­mo, como está escrito: “O Deus que fez o mun­do e tudo o que nele há, sendo ele Sen­hor do céu e da ter­ra, não habi­ta em tem­p­los feitos por mãos de home­ns.” E, “sendo nós, pois, ger­ação de Deus, não deve­mos pen­sar que a divin­dade seja semel­hante ao ouro, ou à pra­ta, ou à pedra esculp­i­da pela arte e imag­i­nação do homem.” (At 17:24,29).

Esse Deus úni­co, espe­cial e supre­mo, só pode ser real­mente con­heci­do através das Sagradas Escrit­uras, onde se rev­ela de for­ma com­preen­sív­el à mente humana. Para isso deve­mos estudá-las com o inter­esse primário de con­hecê-lo, assim como a Seu Fil­ho Jesus Cristo, a quem envi­ou para o tornar con­heci­do. Enquan­to aos deuses fal­sos eram atribuí­dos poderes espe­ci­ais, o Deus ver­dadeiro rev­ela-se a Abraão como deten­tor de todo o poder: “Quan­do Abrão tin­ha noven­ta e nove anos, apare­ceu-lhe o Sen­hor e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em min­ha pre­sença e sê per­feito.” (Gn 17:1).

Como já foi dito ante­ri­or­mente na primeira secção, sobre Êxo­do, quan­do Moisés esta­va guardan­do o reban­ho de seu sogro, no monte Horebe, foi atraí­do por uma chama arden­do numa sarça e dali ouviu uma voz que dizia: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó.” Então, O Sen­hor con­vi­dou Moisés a ir ao Egip­to para lib­er­tar o seu povo da escravidão. Aí, Moisés quis saber o seu nome a fim de apre­sen­tá-lo aos seus irmãos no Egip­to e Deus respon­deu-lhe: “Assim dirás aos olhos de Israel: EU SOU me envi­ou a vós.” (Êx 3:14).

Este ‘EU SOU’ provém do anti­go ver­bo hebraico ‘ava’ que sig­nifi­ca ser. Mais pre­cisa­mente, Deus apre­sen­tou-se a Moisés como aque­le que era, é, e será, eter­na­mente o mes­mo. Na epís­to­la aos hebreus encon­tramos a mes­ma expressão com refer­ên­cia ao Sen­hor, dizen­do que “Jesus Cristo é o mes­mo, ontem, e hoje, e eter­na­mente.” (Hb 13:8). Ele é, por con­seguinte, a ver­dadeira rev­e­lação do Pai; e respon­deu a Fil­ipe, que que­ria ver o Pai, des­ta maneira: “Não crês tu que eu estou no pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mes­mo; mas o Pai, que per­manece em mim, é quem faz as suas obras. Crede-me que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim; crede ao menos por causa das mes­mas obras.” (Jo 14:10,11).

Este Deus úni­co, que se rev­el­ou primeira­mente a Abraão, a Isaque e a Jacó, porém, não era con­heci­do deles pelo nome pes­soal, em hebraico ‘YHWH’, que vocal­iza­do aparece como Yehowah, apor­tugue­sa­do para Jeová: “Apare­ci a Abraão, a Isaque e a Jacó, como o Deus Todo-Poderoso, mas pelo meu nome Jeová, não lhes fui con­heci­do.” (Êx 6:3). Só mais tarde esse nome foi rev­e­la­do a Moisés, a seu pedi­do, para ser acred­i­ta­do entre seus irmãos no Egip­to. Após a lib­er­tação da escravidão egíp­cia fez deles um povo espe­cial para levar o seu con­hec­i­men­to a todas as pes­soas, como está escrito: “Ago­ra, pois, se aten­ta­mente ouvird­es a min­ha voz e guardard­es o meu pacto, então sereis a min­ha pos­sessão pecu­liar den­tre todos os povos, porque min­ha é toda a ter­ra; e vós sereis para mim reino sac­er­do­tal e nação san­ta. São estas as palavras que falarás aos fil­hos de Israel.” (Êx 19:5,6).

Este Deus poderoso vive real­mente e atende as neces­si­dades do seu povo quan­do este se encon­tra em aflição. Tomem­os a exper­iên­cia de Josué relata­da no capí­tu­lo três do seu livro. Haven­do chega­do ao Jordão, Josué deu algu­mas ordens impor­tantes para a trav­es­sia do rio, “e acres­cen­tou: Nis­to con­hecereis que o Deus vivo está no meio de vós e que cer­ta­mente expul­sará de diante de vós os cana­neus, os heteus, os heveus, os per­izeus, os gir­gaseus, os amor­reus e os jebuseus.” (Js 3:10). O sinal da pre­sença do Deus vivo era o mila­gre da sep­a­ração da água do rio. Quan­do os pés dos sac­er­dotes que trans­portavam a arca do con­cer­to pis­aram a água do Jordão, esta sep­a­rou-se e deixou pas­sar o povo por ter­ra firme.

Con­sid­er­e­mos tam­bém a exper­iên­cia de San­são entre os fil­is­teus. Eles tin­ham toma­do a arca do tem­p­lo de Jeová e colo­caram-na na casa do seu deus Dagom. Na madru­ga­da seguinte obser­varam espan­ta­dos que o seu deus esta­va caí­do. Recolo­caram-no no seu lugar, mas na man­hã seguinte esta­va nova­mente no chão em pedaços: “E, lev­an­tan­do-se eles de madru­ga­da no dia seguinte, eis que Dagom esta­va caí­do com o ros­to em ter­ra diante da arca do Sen­hor; e a cabeça de Dagom e ambas as suas mãos estavam cor­tadas sobre o lim­i­ar; somente o tron­co ficou a Dagom.” (1 Sm 5:4). “O que ten­do vis­to os home­ns de Asdo­de, dis­ser­am: Não fique connosco a arca do Deus de Israel, pois a sua mão é dura sobre nós, e sobre Dagom, nos­so deus.” (1 Sm 5:7). O Deus úni­co e ver­dadeiro não tol­era rivais.

Out­ro exem­p­lo da supe­ri­or­i­dade do Deus de Abraão, é a exper­iên­cia de Elias com os pro­fe­tas de Baal. Enquan­to os qua­tro­cen­tos pro­fe­tas de Baal cla­mavam e não eram aten­di­dos, Elias, o úni­co pro­fe­ta de Jeová, troça­va deles: “Ah Baal, responde-nos! Porém não hou­ve voz, ninguém respon­deu. E saltavam em vol­ta do altar que tin­ham feito.” (1 Rs 18:26). “Sucedeu que, ao meio-dia, Elias zom­ba­va deles, dizen­do: Cla­mai em altas vozes porque ele é um deus; pode ser que este­ja falan­do, ou que ten­ha algu­ma coisa que faz­er, ou que intente algu­ma viagem; talvez este­ja dor­min­do e neces­site que o acor­dem.” (1 Rs 18:27). Quan­do chegou a sua hora, Elias dirigiu a sua voz a Deus Jeová e Ele respon­deu poderosa­mente: “Então caiu fogo do Sen­hor e con­sum­iu o holo­caus­to, a lenha, as pedras, e o pó, e ain­da lam­beu a água que esta­va no rego.  Quan­do o povo viu isto, pros­traram-se todos com o ros­to em ter­ra e dis­ser­am: O Sen­hor é Deus! O Sen­hor é Deus!” Tran­screve­mos a expressão hebraica translit­er­a­da por rev­e­lar maior sig­nifi­ca­do: Yehowah Elo­him, Yehowah Elo­him. (1 Rs 18:38,39).

Cer­ta vez o rei de Judá, que esta­va sendo inva­di­do pelo exerci­to Etíope, mais numeroso, clam­ou ao seu Deus e foi aju­da­do, con­forme o rela­to bíbli­co: “E Asa clam­ou ao Sen­hor seu Deus, dizen­do: ó Sen­hor, nada para ti é aju­dar, quer o poderoso quer o de nen­hu­ma força. Acu­da-nos, pois, o Sen­hor nos­so Deus, porque em ti con­fi­amos, e no teu nome viemos con­tra esta mul­ti­dão. Ó Sen­hor, tu és nos­so Deus, não prevaleça con­tra ti o homem. E o Sen­hor des­bara­tou os etíopes diante de Asa e diante de Judá, e os etíopes fugi­ram.” (2 Cr 14:11,12).

Aten­te­mos ain­da na visão que Isaías teve quan­do Deus quis chamá-lo para o min­istério proféti­co: “No ano em que mor­reu o rei Uzias, eu vi o Sen­hor assen­ta­do sobre um alto e sub­lime trono, e as orlas do seu man­to enchi­am o tem­p­lo. Ao seu redor havia ser­afins; cada um tin­ha seis asas; com duas cobria o ros­to e com duas cobria os pés e com duas voa­va. E cla­mavam uns para os out­ros, dizen­do: San­to, san­to, san­to é o Sen­hor dos exérci­tos; a ter­ra toda está cheia da sua glória.” (Is 6:1–3).

O salmista usa a seguinte, e bela expressão, num de seus cân­ti­cos: “A min­ha alma sus­pi­ra! sim, des­falece pelos átrios do Sen­hor; o meu coração e a min­ha carne cla­mam pelo Deus vivo.” (Sl 84:2). E o pro­fe­ta Jere­mias usa esta expressão para referir o seu Deus: “Mas o Sen­hor (Yehowah) é o ver­dadeiro Deus; ele é o Deus vivo e o Rei eter­no.” (Jr 10:10). Igual­mente, Eze­quiel usa a mes­ma expressão quan­do con­vi­da o povo à con­ver­são. O Deus que vive, quer que o povo tam­bém viva e man­dou anun­ciar: “Dize-lhes: Vivo eu, diz o Sen­hor Deus, que não ten­ho praz­er na morte do ímpio, mas sim que o ímpio se con­ver­ta do seu cam­in­ho e viva. Con­vertei-vos, con­vertei-vos dos vos­sos maus cam­in­hos; pois, por que mor­rereis, ó casa de Israel?” (Ez 33:11).

Este foi o moti­vo da vin­da de Jesus e pelo qual dirigiu as seguintes palavras aos seus ouvintes: “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nen­hu­ma o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para faz­er a min­ha von­tade, mas a von­tade daque­le que me envi­ou. E a von­tade do que me envi­ou é esta: Que eu não per­ca nen­hum de todos aque­les que me deu, mas que eu o ressus­cite no últi­mo dia.” (Jo 6:37–39). E apre­sen­ta as suas cre­den­ci­ais com­pro­v­a­ti­vas de o Pai estar com Ele: “Não crês tu que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mes­mo; mas o Pai, que per­manece em mim, é quem faz as suas obras. Crede-me que eu estou no Pai e que o Pai está em mim; crede ao menos por causa das mes­mas obras.” (Jo 14:10,11). E disse mais: “e tudo quan­to pedird­es em meu nome eu o farei para que o Pai seja glo­ri­fi­ca­do no Fil­ho.” (Jo 14:13).

Con­clusão

O Deus descon­heci­do é Deus vivo e tem um coração cheio de amor para amar sem fim: “Porque Deus amou o mun­do de tal maneira que deu o seu Fil­ho unigéni­to para que todo aque­le que nele crê não pereça, mas ten­ha a vida eter­na. Porque Deus envi­ou o seu Fil­ho ao mun­do, não para que jul­gasse o mun­do, mas para que o mun­do fos­se sal­vo por ele.” (Jo 3:16,17). Semel­hante­mente, o Fil­ho amou até ao fim, até mes­mo ao últi­mo sus­piro na sua morte: “Antes da fes­ta da pás­coa, saben­do Jesus que era chega­da a sua hora de pas­sar deste mun­do para o Pai, e haven­do ama­do os seus que estavam no mun­do, amou-os até ao fim.” (Jo 13:1). Isto acon­te­ceu porque DEUS É AMOR. Onde está Deus aí há amor, e onde hou­ver amor aí estará Deus. Na exper­iên­cia deste amor podemos con­hecer o Deus descon­heci­do porquan­to o amor de Deus é der­ra­ma­do em nos­sos corações pelo Espíri­to San­to que nos foi dado. Final­izamos com as palavras do após­to­lo do amor: “Ama­dos, amemo-nos uns aos out­ros porque o amor é de Deus; e todo o que ama é nasci­do de Deus e con­hece Deus… Ninguém jamais viu Deus; se nos amamos uns aos out­ros, Deus per­manece em nós e o seu amor é em nós aper­feiçoa­do.” (1 Jo 4:7,12).

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