“Porque, passando eu e observando os objectos do vosso culto, encontrei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais sem o conhecer, é o que vos anuncio.”
Questão
Visto que os gregos conheciam tantos deuses, por que motivo não tinham conhecimento do Deus de Israel? E que Deus tão especial era ele para dever ser conhecido e adorado por todos? Como é possível conhecer esse Deus tão especial?
Contexto bíblico
Embora os gregos tivessem conhecimento da existência de miríades de deuses, que deuses não eram, mas representavam simplesmente as forças da natureza. Cada deus tinha a sua especialidade e pontificava nessa área específica. Nenhum se metia nas actividades de outro. O Deus dos hebreus, porém, era especial devido ao facto de Ele ser especializado em todas as áreas da criação. Pois no princípio Deus criou os céus e a terra. Além disso, aqueles deuses precisavam que lhes construíssem casas para nelas colocarem as suas estátuas. O Deus desconhecido não carece dessas habitações construídas pelos homens porque Ele mesmo tratou de arranjar uma habitação especial para Si mesmo, como está escrito: “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens.” E, “sendo nós, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida pela arte e imaginação do homem.” (At 17:24,29).
Esse Deus único, especial e supremo, só pode ser realmente conhecido através das Sagradas Escrituras, onde se revela de forma compreensível à mente humana. Para isso devemos estudá-las com o interesse primário de conhecê-lo, assim como a Seu Filho Jesus Cristo, a quem enviou para o tornar conhecido. Enquanto aos deuses falsos eram atribuídos poderes especiais, o Deus verdadeiro revela-se a Abraão como detentor de todo o poder: “Quando Abrão tinha noventa e nove anos, apareceu-lhe o Senhor e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito.” (Gn 17:1).
Como já foi dito anteriormente na primeira secção, sobre Êxodo, quando Moisés estava guardando o rebanho de seu sogro, no monte Horebe, foi atraído por uma chama ardendo numa sarça e dali ouviu uma voz que dizia: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó.” Então, O Senhor convidou Moisés a ir ao Egipto para libertar o seu povo da escravidão. Aí, Moisés quis saber o seu nome a fim de apresentá-lo aos seus irmãos no Egipto e Deus respondeu-lhe: “Assim dirás aos olhos de Israel: EU SOU me enviou a vós.” (Êx 3:14).
Este ‘EU SOU’ provém do antigo verbo hebraico ‘ava’ que significa ser. Mais precisamente, Deus apresentou-se a Moisés como aquele que era, é, e será, eternamente o mesmo. Na epístola aos hebreus encontramos a mesma expressão com referência ao Senhor, dizendo que “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.” (Hb 13:8). Ele é, por conseguinte, a verdadeira revelação do Pai; e respondeu a Filipe, que queria ver o Pai, desta maneira: “Não crês tu que eu estou no pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é quem faz as suas obras. Crede-me que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras.” (Jo 14:10,11).
Este Deus único, que se revelou primeiramente a Abraão, a Isaque e a Jacó, porém, não era conhecido deles pelo nome pessoal, em hebraico ‘YHWH’, que vocalizado aparece como Yehowah, aportuguesado para Jeová: “Apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó, como o Deus Todo-Poderoso, mas pelo meu nome Jeová, não lhes fui conhecido.” (Êx 6:3). Só mais tarde esse nome foi revelado a Moisés, a seu pedido, para ser acreditado entre seus irmãos no Egipto. Após a libertação da escravidão egípcia fez deles um povo especial para levar o seu conhecimento a todas as pessoas, como está escrito: “Agora, pois, se atentamente ouvirdes a minha voz e guardardes o meu pacto, então sereis a minha possessão peculiar dentre todos os povos, porque minha é toda a terra; e vós sereis para mim reino sacerdotal e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel.” (Êx 19:5,6).
Este Deus poderoso vive realmente e atende as necessidades do seu povo quando este se encontra em aflição. Tomemos a experiência de Josué relatada no capítulo três do seu livro. Havendo chegado ao Jordão, Josué deu algumas ordens importantes para a travessia do rio, “e acrescentou: Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós e que certamente expulsará de diante de vós os cananeus, os heteus, os heveus, os perizeus, os girgaseus, os amorreus e os jebuseus.” (Js 3:10). O sinal da presença do Deus vivo era o milagre da separação da água do rio. Quando os pés dos sacerdotes que transportavam a arca do concerto pisaram a água do Jordão, esta separou-se e deixou passar o povo por terra firme.
Consideremos também a experiência de Sansão entre os filisteus. Eles tinham tomado a arca do templo de Jeová e colocaram-na na casa do seu deus Dagom. Na madrugada seguinte observaram espantados que o seu deus estava caído. Recolocaram-no no seu lugar, mas na manhã seguinte estava novamente no chão em pedaços: “E, levantando-se eles de madrugada no dia seguinte, eis que Dagom estava caído com o rosto em terra diante da arca do Senhor; e a cabeça de Dagom e ambas as suas mãos estavam cortadas sobre o limiar; somente o tronco ficou a Dagom.” (1 Sm 5:4). “O que tendo visto os homens de Asdode, disseram: Não fique connosco a arca do Deus de Israel, pois a sua mão é dura sobre nós, e sobre Dagom, nosso deus.” (1 Sm 5:7). O Deus único e verdadeiro não tolera rivais.
Outro exemplo da superioridade do Deus de Abraão, é a experiência de Elias com os profetas de Baal. Enquanto os quatrocentos profetas de Baal clamavam e não eram atendidos, Elias, o único profeta de Jeová, troçava deles: “Ah Baal, responde-nos! Porém não houve voz, ninguém respondeu. E saltavam em volta do altar que tinham feito.” (1 Rs 18:26). “Sucedeu que, ao meio-dia, Elias zombava deles, dizendo: Clamai em altas vozes porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha alguma coisa que fazer, ou que intente alguma viagem; talvez esteja dormindo e necessite que o acordem.” (1 Rs 18:27). Quando chegou a sua hora, Elias dirigiu a sua voz a Deus Jeová e Ele respondeu poderosamente: “Então caiu fogo do Senhor e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, e o pó, e ainda lambeu a água que estava no rego. Quando o povo viu isto, prostraram-se todos com o rosto em terra e disseram: O Senhor é Deus! O Senhor é Deus!” Transcrevemos a expressão hebraica transliterada por revelar maior significado: Yehowah Elohim, Yehowah Elohim. (1 Rs 18:38,39).
Certa vez o rei de Judá, que estava sendo invadido pelo exercito Etíope, mais numeroso, clamou ao seu Deus e foi ajudado, conforme o relato bíblico: “E Asa clamou ao Senhor seu Deus, dizendo: ó Senhor, nada para ti é ajudar, quer o poderoso quer o de nenhuma força. Acuda-nos, pois, o Senhor nosso Deus, porque em ti confiamos, e no teu nome viemos contra esta multidão. Ó Senhor, tu és nosso Deus, não prevaleça contra ti o homem. E o Senhor desbaratou os etíopes diante de Asa e diante de Judá, e os etíopes fugiram.” (2 Cr 14:11,12).
Atentemos ainda na visão que Isaías teve quando Deus quis chamá-lo para o ministério profético: “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as orlas do seu manto enchiam o templo. Ao seu redor havia serafins; cada um tinha seis asas; com duas cobria o rosto e com duas cobria os pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda está cheia da sua glória.” (Is 6:1–3).
O salmista usa a seguinte, e bela expressão, num de seus cânticos: “A minha alma suspira! sim, desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo.” (Sl 84:2). E o profeta Jeremias usa esta expressão para referir o seu Deus: “Mas o Senhor (Yehowah) é o verdadeiro Deus; ele é o Deus vivo e o Rei eterno.” (Jr 10:10). Igualmente, Ezequiel usa a mesma expressão quando convida o povo à conversão. O Deus que vive, quer que o povo também viva e mandou anunciar: “Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que morrereis, ó casa de Israel?” (Ez 33:11).
Este foi o motivo da vinda de Jesus e pelo qual dirigiu as seguintes palavras aos seus ouvintes: “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do que me enviou é esta: Que eu não perca nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia.” (Jo 6:37–39). E apresenta as suas credenciais comprovativas de o Pai estar com Ele: “Não crês tu que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é quem faz as suas obras. Crede-me que eu estou no Pai e que o Pai está em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras.” (Jo 14:10,11). E disse mais: “e tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei para que o Pai seja glorificado no Filho.” (Jo 14:13).
Conclusão
O Deus desconhecido é Deus vivo e tem um coração cheio de amor para amar sem fim: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” (Jo 3:16,17). Semelhantemente, o Filho amou até ao fim, até mesmo ao último suspiro na sua morte: “Antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, e havendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim.” (Jo 13:1). Isto aconteceu porque DEUS É AMOR. Onde está Deus aí há amor, e onde houver amor aí estará Deus. Na experiência deste amor podemos conhecer o Deus desconhecido porquanto o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Finalizamos com as palavras do apóstolo do amor: “Amados, amemo-nos uns aos outros porque o amor é de Deus; e todo o que ama é nascido de Deus e conhece Deus… Ninguém jamais viu Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor é em nós aperfeiçoado.” (1 Jo 4:7,12).