Deus não queria que as suas criaturas andassem na escuridão, às apalpadelas para encontrarem o rumo adequado à sua natureza humana. Por isso, dotou-nos com dons sensitivos a fim de entendermos o Plano da Sua vontade revelada. A função da revelação é manifestar o carácter de Deus, fornecer o plano da salvação e oferecer comunhão ao homem.
Há dois tipos de revelação
1. A revelação geral é um dos meios usados por Deus para se tornar conhecido, mas é limitada pela percepção sensorial do homem. O intelecto humano é limitado na apreensão da revelação divina, não capta perfeitamente a mensagem. Deus revela-se mediante a Natureza. Toda a criação manifesta a existência dum Arquitecto, Criador, Sábio e Poderoso, cujas leis universais são infalíveis e eternas. “Os céus manifestam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Sl. 19.1). Ao observar qualquer criação é lógico que se aceite a existência dum criador. O mesmo se passa com o Universo criado por Deus. Perante este facto o salmista define como loucura a afirmação de que não há Deus (Sl. 14.1). Porque Deus é a causa primária da existência de todas as coisas (Gn. 1.1; Jo. 1.1–3; Act. 17.24,26).
Deus revela-se mediante a História. A ascensão e queda de nações e impérios ao longo da História reflectem a sabedoria e o poder de Deus para efectuar o seu plano. Muito do que sabemos a respeito da História Antiga aprendemo-lo através dos relatos bíblicos, que nos informam fielmente como Deus lidou com algumas nações.
Por exemplo, o livro do Êxodo, nos capítulos sete a doze, conta-nos a história das dez pragas contra o Egipto, e ainda da páscoa, para que Faraó, permitisse a saída do povo de Israel, conforme era da sua vontade. Em Jeremias, no capítulo quarenta e seis, lemos como o Senhor usou o rei da Babilónia para castigar o Egipto com o cativeiro. E o capítulo cinquenta e dois relata que Deus usou Babilónia para castigar Israel pelo pecado de idolatria. No capítulo cinquenta, do mesmo livro, lemos acerca do castigo a Babilónia. Existem muito mais exemplos em toda a Bíblia.
A arqueologia é uma das ciências comprovativas da revelação histórica. Os arqueólogos, nas suas escavações, continuam descobrindo registos da História Antiga que comprovam a revelação de Deus. Os achados arqueológicos chegam aos museus atestando a revelação da História.. Todavia, as limitações da revelação geral são motivadas pelo espírito corrompido da humanidade.
O homem natural recusa-se a aceitar a verdade espiritual porque ela só pode ser entendida espiritualmente. Observemos alguns exemplos: Paulo, na sua carta aos romanos, afirma que, apesar das suficientes provas da criação, não glorificaram a Deus, porque sua mente ficou corrompida pelo pecado, e dizendo-se sábios tornaram-se loucos (Rm. 1.18–22). Na sua carta aos coríntios atesta que o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus porque estas lhe parecem loucura (1 Co. 2.14); A mente natural, por estar separada de Deus, é ignorante, e não pode entender as revelações de Deus e a sua vontade (Ef. 4.18). Veio então uma nova revelação.
2. A revelação especial é o meio adequado e infalível pelo qual Deus fornece ao homem conhecimentos claros do Seu carácter, do Seu plano, e da Sua vontade. As coisas que Deus preparou para aqueles que O amam foram-nos reveladas pelo Seu Espírito (1 Co. 2.9,10). Daniel louva a Deus porque lhe revelou aquilo que o rei queria saber a seu respeito (Dn. 2.19–23). A palavra escrita é a revelação perfeita da natureza de Deus, do Seu plano de redenção e da Sua vontade. Ela encerra toda a informação certa e segura sobre Deus. Ele revelou e inspirou homens santos a registar o que fez no passado, o que está fazendo no presente e o que fará no futuro. E como toda a Escritura é inspirada por Deus, toda ela é útil para O revelar e à Sua vontade (2 Tm. 3.16,17).
Esta revelação foi escrita na linguagem e no ambiente cultural dos intervenientes, escolhidos para o registo da mesma. Deus respeitou as características próprias de cada escritor, assim como a sua cultura e o seu próprio vocabulário. Além disso, ainda sofreram a influência das culturas diversas por onde passaram. Moisés recebeu influência da corte no Egipto. Os profetas, na Palestina, tinham a sua própria cultura. Daniel e outros sofreram influência das culturas de Babilónia e Assíria. E os apóstolos, além da Palestina, conheceram as culturas de Ásia, Grécia e Roma. Até mesmo as grandes distâncias entre estas regiões atestam a revelação das Sagradas Escrituras.
Quanto à linguagem, usaram o hebraico e o aramaico para escrever o Antigo Testamento. Para o Novo Testamento serviram-se do grego comum, ou coinê. Por isso, o melhor método para compreender as Escrituras é a regra hermenêutica considerando na totalidade as seis importantes interrogações, (o quê? quem? porquê? quando? onde? como?) as quais nos orientam para tomar em consideração outros tantos factores (parágrafo, contexto, gramática, história, geografia, cultura).
Assim, Deus revela-se de várias maneiras. Primeiro pôs à nossa disposição o Grande Livro da Natureza a fim de O conhecermos como Grande Arquitecto, sábio e poderoso, conforme nos revela o Salmo 19. Porém, devido à limitação humana, o homem natural não entende esta revelação de Deus. Depois falou-nos por meio de profetas e de Seu Filho, revelando-se como maravilhoso conselheiro (Hb. 1.1). Jesus assegurou aos discípulos que a palavra que lhes falava era do Pai, que o enviara (Jo. 14.24) porque lhes falava do que vira junto de Seu Pai (Jo. 8.38).
Também se revela por meio da consciência, com a qual dotou a todos, revelando-se assim como Juiz permanente (Rm.2.14,15). Porém, por causa da impureza e da imperfeita formação, a apreensão da revelação é imperfeita (Tt. 1.15). Por fim, deu-nos as Escrituras que possuímos revelando-se como Grande Legislador. Tiago diz que há um só Legislador e Juiz (Tg. 4.12). As Sagradas Escrituras são essa Lei pela qual todos devem ser julgados. Deus criou o homem com desejo e capacidade de conhecer a realidade das coisas. Certamente não omitiria uma revelação que satisfizesse esse desejo natural.
O livro que possuímos e estudamos recebeu o nome de “biblia”, que é o plural do grego “biblion”, por conter sessenta e seis livros. Foi escrita por cerca de quarenta autores, de todas as profissões contemporâneas, durante cerca de mil e quinhentos anos. Apesar de ter sido escrita em lugares tão distantes e diferentes, e por pessoas que nunca se viram, revela uma unidade extraordinária no seu tema central. Logo em Génesis 3.15 está a promessa da semente da mulher, e por todo o livro é referida esta mesma semente até que nasceu da virgem Maria. O possuidor duma Bíblia tem consigo a Biblioteca divina. Ela é, por excelência, o Manual da Universidade do Espírito Santo, onde todos podem aprender e formar-se em Filosofia da Vida. Também recebeu o nome de Escrituras “grafai”.
Significado do termo “Escrituras”
O termo “Escrituras”, significa aquilo que foi escrito. Referente ao Antigo Testamento, é mencionado cinquenta vezes no Novo Testamento. Aparece com sentido genérico em Actos 8.32, no relato de Lucas sobre o encontro de Filipe e o funcionário da Etiópia, informando-nos que este estava lendo o livro de Isaías. Actos 17.2 mostra como Paulo costumava ler e explicar as Escrituras nas sinagogas, em seus sermões expositivos, demonstrando ser Cristo o cumprimento das profecias. E o verso onze faz referência à nobreza dos crentes bereanos examinarem as Escrituras diariamente para certificar se as coisas eram assim. Os cristãos devem ser prudentes e examinar constantemente se o que ouvem está conforme as Sagradas Escrituras.
Cristo referiu-se às Escrituras do A.T. ao mencionar “a pedra que os edificadores rejeitaram” que consta no livro de Isaías (cf. Mt. 21.42; e Is. 28.16). Após a sua ressurreição encontrou-se com dois discípulos, no caminho de Emaús, e “explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras; e esclarece-nos que essas Escrituras continham a lei de Moisés, os profetas e os Salmos” (Lc. 24.27,44). O verso quarenta e cinco mostra como é necessário que Ele nos abra o entendimento para entender as Escrituras. O Senhor também referiu que do mandamento do amor depende toda a lei e os profetas (Mt. 22.40).
Os apóstolos referiram-se às Escrituras do A.T. Paulo menciona os livros dos profetas nas santas Escrituras (Rm. 1.2; 3.21). Ele declara que Cristo morreu, foi sepultado e ressuscitou, em cumprimento das Escrituras (1 Co. 15.3,4). Tiago revela que nas Escrituras encontra-se a lei real, o amor ao próximo, para ser cumprida; (Tg. 2.8). Pedro faz referência às epístolas de Paulo e às outras Escrituras, que os indoutos e inconstantes torcem para sua perdição (2 Pd. 3.16).
O lugar que a Lei possuía em Israel
Moisés ordenou que o Livro da Lei devia ser lido para todos em Israel, assim: “Ajunta o povo, homens e mulheres e meninos, e os estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam e aprendam e temam ao Senhor vosso Deus e tenham cuidado de fazer conforme todas as palavras desta lei (Dt. 31.12). O Livro da Lei devia permanecer ao lado da Arca do Concerto (Dt. 31.26). O rei devia possuir uma cópia para consulta regular (Dt. 17.18–20). A Lei era ensinada em todas as cidades para ser obedecida (2 Cr. 17.9). A prosperidade dependia do cumprimento da Lei (Js. 1.8). Paulo ensina que para cumprir toda a Lei é preciso amar ao próximo como a nós mesmos (Gl. 5.14).
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