O fundamento da prática da Santa Ceia encontra-se na celebração da Páscoa no Egipto. Este foi o processo revelado por Deus para Moisés conseguir libertar os israelitas da escravidão a que estavam sujeitos após a morte de José (Êx 12). Esta refeição familiar era o reflexo do passado, do presente e do futuro de Israel, e a festa nacional da liberdade conseguida pela morte de um cordeiro em cada casa.
E esta era a instrução para a dita celebração anual por todas as famílias: “Toda a congregação de Israel a observará. Quando, porém, algum estrangeiro peregrinar entre vós e quiser celebrar a páscoa ao Senhor, circuncidem-se todos os seus varões; então se chegará e a celebrará, e será como o natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela. Haverá uma mesma lei para o natural e para o estrangeiro que peregrinar entre vós.” (Êx 12:47–49).
Jesus antecipou-se a celebrar a Páscoa com os discípulos a fim de poder estar livre para o seu próprio sacrifício como Cordeiro de Deus e levar o pecado do mundo. A celebração da Páscoa comemorava a redenção do povo israelita, a sua saída do Egipto pela liderança de Moisés com a orientação de Deus. O nome provém do hebraico que significa passar por cima. O anjo do Senhor passou por cima das casas marcadas com sangue, enquanto nas outras acontecia a morte do primogénito. A liturgia da Páscoa judaica incluía pão, cordeiro, ervas amargas, copos para vinho segundo os elementos da família, acções de graças e cânticos nos Salmos 113 a 118.
No tempo de Jesus a liturgia seguia esta ordem: Na mesa eram colocados previamente todos os elementos necessários à celebração. Em seguida, todos os membros da família se sentavam reclinados à mesa para celebrar a Páscoa. Depois, enchiam-se os copos com dois terços de água e um de vinho sem lhes tocarem. Cada membro da família tinha direito a quatro copos de vinho misturado com água. Então, o chefe de família pronunciava as graças conforme iam comendo e bebendo, cujo fundamento teológico se encontra em Êxodo 6.6,7, relacionado com as promessas de Deus, que diz:
“Portanto, dize aos filhos de Israel: Eu sou Jeová; eu vos tirarei de debaixo das cargas dos egípcios, livrar-vos-ei da sua servidão, e vos resgatarei com braço estendido e com grandes juízos. Eu vos tomarei por meu povo e serei vosso Deus; e vós sabereis que eu sou Javé vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios.”
O primeiro copo era chamado o cálice da santidade. A oração de abertura, feita sobre o primeiro copo de vinho, era a acção de graças pelo dia festivo da libertação. Tomando um copo nas suas mãos, o chefe de família elevava‑o dizendo: “Abençoado sejas Tu, Senhor nosso Deus, Rei do Universo, Criador do fruto da vide”. Lavavam as mãos, comiam ervas amargas recordando os tempos amargos passados no Egipto.
O segundo copo era chamado o cálice da instrução. Nesta ocasião festiva era feita a narrativa anual aos filhos sobre os acontecimentos que libertaram o povo do Egipto pela mão de Moisés, conforme ordenado em Êxodo 12.26,27. Aí cantavam o pequeno Hallel, que é o Salmo 113. Do mesmo modo, a Santa Ceia dos cristãos deve servir de instrução sobre a obra de Cristo para nos libertar da escravidão do pecado.
O terceiro copo era chamado o cálice da redenção. Este foi o cálice referido pelo Senhor como símbolo do seu sangue. Neste momento da ceia o chefe tomava o pão nas mãos e dava graças dizendo: “Abençoado sejas Tu, Senhor nosso Deus, Rei do Universo, que extrais o pão da terra”. Então, partiam com as mãos um pequeno pedaço de pão e comiam os elementos da ceia. Neste momento Cristo disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Depois, tomando um cálice, deu graças e deu-lho dizendo: Isto é o meu sangue, o sangue do novo pacto, fazei isto em memória de mim.
O quarto copo era chamado o cálice da esperança. Era o copo final, o cálice da alegria, tomado no final da refeição como nós tomamos o último copo num casamento. Foi este cálice que Jesus disse que não beberia até que venha o Reino de Deus e possa bebê-lo com a sua noiva. Ou, doutra maneira: “Até àquele dia em que o beber novo no Reino de Deus”. No final cantavam o grande Hallel, os Salmos 114 a 118. A refeição terminava com acção de graças por um deles e o amém por todos.
A Páscoa dos cristãos substitui o cordeiro pelo pão e o sangue pelo vinho, símbolos vivos consagrados pelo Senhor para recordar a Sua memória até que volte. Lucas escreveu as palavras de Jesus acerca deste facto: “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta páscoa antes da minha paixão… E tomando pão, e havendo dado graças, partiu‑o e deu-lho dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.” Semelhantemente, depois da ceia tomou o cálice dizendo: Este cálice é o novo pacto no meu sangue, que é derramado por vós.” (Lc 22.18–20).
Depois, perseveraram na celebração pascal conforme o Senhor lhes tinha aconselhado. Porém, a festa foi transferida para o primeiro dia da semana devido à ressurreição daquele que estivera morto. Conforme está escrito: “No primeiro dia da semana Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu que a pedra fora removida do sepulcro.” (Jo 20.1)… “Chegada, pois, a tarde, naquele dia, o primeiro da semana, e estando os discípulos reunidos com as portas cerradas por medo dos judeus, chegou Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco.” (Jo 20.19).
Lucas revela-nos que a cerimónia de partir o pão acontecia no primeiro dia da semana: “No primeiro dia da semana, tendo-nos reunido a fim de partir o pão, Paulo, que havia de sair no dia seguinte, falava com eles, e prolongou o seu discurso até a meia-noite.” (At 20.7). E Paulo deu instruções para que no primeiro dia da semana os cristãos separassem uma oferta para os pobres: “Ora, quanto à colecta para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galileia. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder, conforme tiver prosperado, guardando‑o, para que se não façam colectas quando eu chegar.” (1 Co 16.1,2).
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